sábado, 10 de setembro de 2011

ESTRAGOS DA CONCORRÊNCIA CHINESA, NOS EUA...

        Então é assim, basta investir em novas tecnologias, “economia verde”, por exemplo, e estará tudo resolvido.

      Não é verdade. Conforme a matéria abaixo, do Valor, não é suficiente, pois a China entra agressivamente em algumas áreas importantes como a fabricação de placas voltaicas. Alemães que eram os maiores fabricantes do ramo já haviam acusado o golpe. Agora são três empresas americanas indo à falência.

     Bom ressaltar que tem mito pouco a haver com a “destruição criadora” de Schumpeter e muito a haver com concorrência predatória. O ocidente caiu em sua própria armadilha liberal. Pretendendo ampliar o comércio internacional e assim facilitar também a alocação planetária de recursos o sistema confiava em aumentar a sua eficiência. Entre si os países do centro tinham um certo equilíbrio de custos internos, fazendo com que a concorrência fosse mais equilibrada. Dos países do centro para os países da periferia o que passava eram produtos de alta tecnologia com os quais a periferia não tinha condições de concorrer dadas as suas incapacidades na produção de conhecimento. Da periferia para o centro seguiam ou commodities, baratas, ou produtos manufaturados cujo ganho de tecnologia permanecia no Centro, mas cuja manufatura buscava melhores custos de mão de obra, justamente na periferia. Sem dúvida esse era o melhor dos mundos para o Centro e seu projeto de hiper-consumo turbinado pelas sucessivas bolhas especulativas. Esqueceram de combinar com os chineses.

      A China ainda tem que resolver o que fazer com 700 milhões de pessoas que estão nos campos em situações potencialmente explosivas de subconsumo qualidade de vida. Nada mais natural que tenham se infiltrado pelas brechas do sistema e utilizado elas a seu favor. A postura do governo brasileiro foi típica. Empolgado com a capacidade de compra chinesa Lula foi um forte estimulador da entrada da China na OMC, criando facilidades para a comercialização de produtos chineses e incluindo-os nas lógicas de proteção da entidade. Bem, de certa forma, de um lado, tivemos nossos ganhos, pois nunca jamais em tempo algum as commodities brasileiras valeram tanto, durante tanto tempo. Esse fato é um dos mais fortes elementos de sustentação do atual modelo de desenvolvimento brasileiro. Não é pouco. Infelizmente o mundo não é perfeito e é esse mesmo parceiro de compras quem vende barato, muito barato, ao ponto de assustar a CNI e justificar algumas toneladas de papel em textos sobre a desindustrialização, medidas de proteção industrial e todos os gastos com a tentativa de segurar o câmbio.

      Claro que nesse momento a questão emergencial não são os custos da ineficiência institucional brasileira gerando outros custos adicionais etc. Na realidade o Custo-Brasil embora dê boas manchetes e imensos relatórios não foi internalizado por ninguém, pois dependeria de outro modelo de desenvolvimento, o que não está no horizonte de ninguém. Emergencial tanto para americanos, como para brasileiros, seriam barreiras que compesassem o simples fato da mão de obra chinesa ser quase escrava. Onde anda a OIT? Mas como impor barreiras, se barreiras são propostas não-liberais? Como o Tony Volpon já havia dito a crise é a crise do sucesso do modelo chinês.

     Se a produção de conhecimento é a saída, como fica agora com a China empregando as mesmas lógicas de produção a produtos de alta tecnologia? A China vai virar a fábrica do mundo? Como o Brasil irá lidar com esses fatos? Vamos criar contenciosos com o nosso maior comprador? Vamos engolir em seco e seguir em frente? Há caminho em exigir da China que respeite direitos trabalhistas etc. e assim alinhe, mesmo que parcialmente, custos? Mas se a China não é uma democracia, lá para eles custos trabalhistas, proteção estatal, sindicalização etc. terão mesmo algum sentido? Aliás esse é um ponto muito curioso: Um alinhamento dos custos da China com o resto do mundo depende de haver lá uma democracia e não uma ditadura.

      Há um grande, e difícil, debate pela frente...

Demetrio Carneiro


Autor(es): Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
Valor Econômico - 09/09/2011


A energia solar recebeu um golpe duro nos Estados Unidos nos últimos dias com o anúncio sucessivo de três fabricantes de painéis fotovoltaicos pedindo concordata. A crise econômica global e a forte agressividade chinesa estão por trás da insolvência. Contudo, longe de ser um sinal pessimista, analistas garantem que o mercado americano continua robusto, que o setor segue crescendo no mundo e que, mais do que nunca, o Brasil deveria investir em energia solar.
De 2009 até hoje, os preços dos painéis solares no mundo caíram 40%, puxados pelo vertiginoso aumento na capacidade de produção da China, diz o americano Christopher Flavin, especialista em energias renováveis. Empresas emergentes de alta tecnologia, mas pouco capitalizadas como a Evergreen Solar, a SpectraWatt e a Solyndra não aguentaram a pressão. "Elas planejavam baixar seus preços, mas não nesta escala, onde não conseguiriam competir", diz Flavin, presidente emérito do Worldwatch Institute, instituto internacional de pesquisa em energia sediado em Washington.
A primeira a anunciar a insolvência, no meio de agosto, foi a Evergreen Solar, empresa de Massachusetts de início promissor e 130 funcionários. Segundo noticiou na ocasião a agência Bloomberg, a empresa culpou, de um lado, a concorrência chinesa, formada por uma indústria alimentada por fortes subsídios governamentais, e do outro, a falta de políticas que estimulem a adoção de energias limpas nos Estados Unidos. A empresa anunciou, porém, que a unidade em Wuhan, na China, continuará funcionando. "No meu entendimento, eles estão mexendo a operação e se mudando para a China", arrisca Ralph Cavanagh, co-diretor do programa de energia da Natural Resources Defense Council (NRDC), uma das maiores ONGs dos Estados Unidos.
No fim de agosto foi a vez da SpectraWatt, de Nova York, a jogar a toalha. De novo o mesmo filme: "Os fabricantes nos EUA estão sob forte pressão provocada pelas empresas emergentes chinesas, que recebem considerável apoio financeiro do governo", disse o porta-voz da SpectraWatt. "Este apoio, acoplado aos baixos custos de produção chineses criaram uma vantagem competitiva que os tornou líderes em preço."
Há poucos dias foi a Solyndra, da Califórnia, com receita de US$ 140 milhões em 2010, a assumir as dificuldades e demitir 1.100 funcionários. Foi um susto não só para o mercado. Há um ano, a empresa recebeu US$ 535 milhões em empréstimos garantidos pelo Departamento de Energia do governo federal. Em maio de 2010 o presidente Barack Obama visitou instalações da Solyndra, um dos ícones do movimento de investir em tecnologias verdes e gerar empregos. Os republicanos aproveitaram a deixa e criticaram o governo, acusando-o de emprestar recursos a empresas pouco eficientes.
Cavanagh diz que as críticas são injustas, que o episódio ganhou peso político e que a Solyndra quebrou porque fez uma aposta errada: criou uma tecnologia para painéis solares não baseada em placas de silício acreditando que os preços do silício continuariam altos. "Mas os preços caíram em função da demanda global e o produto deles ficou pouco atraente", diz. Ele lembra que turbulências no setor são recorrentes porque os subsídios expiram e as políticas de governo são voláteis. O impacto desta quebradeira, opina, tem sido usado politicamente contra Obama.
O maior empréstimo dado pelo Departamento de Energia a empresas de tecnologia verde foi de US$ 1,9 bilhão. "As críticas não procedem. A empresa respondia por parte muito pequena do portfólio de empréstimos", disse ao Valor. Para Cavanagh, o mercado dos EUA é "robusto e está expandindo rápido". Sua previsão é que, em 2013, a indústria de painéis solares no mundo tenha capacidade instalada de 100 mil megawatts (MW), mais do que a capacidade de energia nuclear dos EUA. Em 2010, diz, o mundo tinha capacidade para produzir 40 mil MW de energia solar e os EUA tinham cerca de 3 mil MW. Em 2011 a cifra global deverá ser de 60 mil MW.
Pelos dados de Flavin, o mercado de energia solar dobrou em 2010, nos EUA, mas ainda é tímido, representando 5% do mercado mundial. O mercado global, na mesma ocasião, registrou um crescimento de 132%. "O pequeno mercado dos EUA é resultado de uma política relativamente fraca", diz ele, lembrando que vários outros países têm o mesmo problema. O mercado é dominado por poucos países com fortes políticas para o setor, como a Alemanha, a Itália e República Tcheca. "O mercado europeu continua crescendo, mas em ritmo menor em função da crise", explica. Em sua opinião, os EUA não precisariam dar ajuda direta à indústria, mas deveriam estimular mais o mercado. "As forças de mercado podem ser cruéis e destruir grandes companhias."
Mas se a queda de preços é ruim para os fabricantes, é boa para os consumidores, lembra Cavanagh. Ele diz que o Brasil pode se beneficiar da baixa de preços e investir no setor, já que é um país solar. Flavin concorda. "Esta é uma tremenda oportunidade para o Brasil ampliar sua matriz energética solar", recomenda. "A boa performance da economia brasileira está atraindo empresas chinesas e europeias que querem investir no Brasil."
A indústria mundial "olha com atenção para novos mercados como o brasileiro, pois precisa escoar sua capacidade de produção crescente frente a margens de retorno decrescentes", diz Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina. "Ao mesmo tempo, no Brasil, o custo da energia convencional continua em tendência de alta e já se vislumbra a viabilidade econômica da geração fotovoltaica em diversas regiões do país", continua Rüther, também diretor técnico do IDEAL, instituto que trabalha no desenvolvimento de renováveis na América Latina. Este é o momento, sugere, para que o Brasil formule "políticas públicas bem pensadas, para incorporar esta tecnologia de forma progressiva e sustentável na matriz energética nacional."