quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

VOLPON E PREVISÕES PARA 2011

Outro post do Tony Volpon publicado no Blog Beyondbrics do FT, hoje, 29.
Como sempre em tradução livre.

Demetrio Carneiro

O 11 do 11 de 2011: o governo do Brasil vai conter a política fiscal?

O desempenho recente do governo brasileiro, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está de saída, não sugere que a sua escolhida sucessora, Dilma Rousseff, vai conter a política fiscal.

Ignorando os números altamente distorcidos do superávit fiscal e olhando apenas para o gasto, os do governo central, nos últimos 12 meses, foram de R$ 616 bi, um incrível aumento de 44 por cento com base em 2008.
Com Lula deixando o cargo registrando popularidade recorde Rousseff ousaria mudar alguma coisa?

Muitos analistas dizem que não, mas nós pensamos que sim. A crença de que o próximo governo vai continuar sua políticas as usual não reconhece duas realidades:

Primeiro, o Brasil claramente passou por um caso particularmente agudo do "ciclo político-econômico", tendência, bem documentada, dos gastos dos governos subirem rampa acima antes das eleições.

Os recentes incrementos dos enormes gastos, primeiro justificados como anti-cíclicos, uma resposta keynesiana a crise de 2008, continuaram inabaláveis, mesmo com o crescimento econômico superando 7 por cento ao ano. Agora, com a eleição ganha, não há razões eleitorais para manter o crescimento de gastos no nível atual.

A segunda realidade a ser reconhecida é que esse aumento dos gastos já está causando graves desequilíbrios na economia. Isso já pode ser visto no mercado de trabalho muito incrementado, crescentes importações, e contínua alta de inflação nos itens não-comercializáveis (como os serviços, que geralmente não podem ser importados).

Mais importante do que esses efeitos de curto prazo, é que o "modelo Lula" para a economia brasileira está finalmente mostrando as suas limitações estruturais.

A política econômica de Lula pode ser facilmente descrita como "um pé no acelerador e um pé no freio", em outras palavras, muita facilidade fiscal, salarial e de política de crédito equilibrada por uma muito restrita política monetária para manter a inflação baixa. Esse "mix" foi politicamente bem sucedido, proporcionando um crescimento forte e inflação baixa (principalmente em um ambiente internacional favorável para o Brasil). Mas uma conseqüência natural da combinação dessas políticas é a valorização da moeda: desde 2009, a moeda brasileira valorizou mais de 40 por cento em termos reais.

Se as políticas atuais continuarem, o Brasil vai finalmente enfrentar um explosivo déficit em conta corrente e a destruição de sua capacidade de exportação de manufaturas - e do novo governo compreende isso.

Livre, temporariamente, do ciclo eleitoral podendo olhar para quatro anos adiante, esse novo governo já sinalizou como muda a política: corte de gastos e de crédito para aliviar a pressão sobre a demanda e reduzindo a absurdamente alta taxa de juros reais do Brasil, aliviando a pressão sobre a moeda brasileira.

A contenção orçamentária é o elemento chave de um novo "modelo" econômico para o Brasil, e apesar de que mudar a política fiscal é sempre lento e difícil, os incentivos para fazê-lo agora são grandes. Como Rousseff sabe, uma crise econômica é a única forma segura de perder o poder político.