É verdade que a crise trouxe novas oportunidades e, comparativamente com as nações desenvolvidas (o que quer que realmente seja isso) poderemos ter, ainda, crescimento onde elas não crescerão. Estaremos de fato melhores ou estaremos melhores por q eu elas estarão piores? Num mundo de economias integradas qual será o significado do baixo crescimento das nações cujo consumo vinha alavancando o resto da economia mundial?
Ao contrário do mundo convergente, que seria a solução da crise, podemos estar caminhando para um o reforço das vontades nacionais e para o que pode ser o retorno do autoritarismo de caráter nacionalista e não é apenas um movimento sentido na América Latina. Na Europa Central já aparecem os primeiros sinais. Não há ai nenhum catastrofismo. O processo de consolidação do ideal democrático não será tão facilmente abatido como foi entre as duas grandes guerras do século passado. Mas nada autoriza a tranqüilidade. É bom ir acendendo a luz amarela.
Muito bem, essa esplêndida janela de oportunidades, onde cresceremos mais em relação aos outros que crescerão menos, tem exatamente qual significado?
É simplesmente crescer e tudo bem?
Poderemos crescer com bases nos mesmos paradigmas que são os responsáveis pela crise em toda sua realidade?
De fato a leitura simplificante do da ideologia mais tradicional de esquerda que concede ao “neo-liberalismo” as honras da crise está muito longe que traduzir os fatos.
A raiz da crise está no padrão de desenvolvimento fundado no consumo a qualquer custo, no estímulo ao hiper-consumo.
Está na simplificação esterilizante do modelo de exportação da indústria suja para a periferia e depois da industria de transformação. As primeiras atrás da inexistência de regulações ambientais nesses países. A segunda atrás da farta e barata mão de obra. Daí que a produção do conhecimento, a nova economia, não foi suficiente para sustentar o consumo vertiginoso e monumental.
Talvez modelo econômico algum seja capaz disso e talvez por isso o sistema, visto como um todo, precisa gerar bolhas que são os pontos de multiplicação máxima do capital e geração de excedentes para o hiper-consumo.
O que difere nosso modelo atual de desenvolvimento do modelo do centro nas suas linhas gerais de dependência completa da alavancagem do consumo das famílias, mesmo sem base material, do paradigma central do carro individual movido à combustível fóssil, objeto de desejo de 99 entre 100, da crescimento de alto risco ambiental? Isto para ficarmos apenas nas questões mais badaladas.
Difere pouco, pouquíssimo ou nada?
Esta é que questão para 2011 e os próximos anos: A crise não abriu apenas uma janela de oportunidades. Ela também acelerou o fim de toda uma era e será preciso muito mais que copiar os modelos atuais dos países desenvolvidos, porque na verdade desenvolvimento hoje é outra coisa bem diferente.
Demetrio Carneiro