O Tony foi referenciado nesta matéria do The Economist e me enviou.
Aproveitei para traduzir, de forma livre, pois acho que tem uma abordagem bem interessante sobre os dilemas do futuro governo Dilma.
Demetrio Carneiro
VOLTANDO À TERRA
Dilma Roussef assume com uma economia em expansão – e aumento na inflação e nas taxas de juros, falte investimentos na infraestrutura e incontinencia fiscal dos legisladores.
A poucos passos da presidência do Brasil, em 01 de janeiro, Dilma Rousseff pode ficar cautelosamente satisfeita consigo mesma. Ao escolher o seus 37 ministros, fez um trabalho razoável satisfazendo as demandas conflitantes do seu partido e da coligação, demandas regionais e blocos ideológicos e o seu próprio desejo de ter um terço dos cargos ocupados por mulheres (ela conseguiu nove). Ao fazer Antônio Palocci, um antigo ministro da Fazenda, seu chefe de equipe mostrou confiança em si mesmo: Alguns acreditam que ela se recusaria a colocar uma figura política poderosa em um papel central. Essa escolha e a promoção de Alexandre Tombini da Diretoria do Banco Central para a presidência safistez os investidores, que procuravam por sinais de ortodoxia econômica. Ela ainda conseguiu mostrar-se agradecida a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, apesar dos comentários de seu mentor político sobre o seu procedimento.
Nos momentos antecedentes de sua posse, Rousseff recebeu também claros sinais sobre as dificuldades à frente. No discurso de vitória, em 31 de outubro, ela destacou que suas prioridades nos próximos quatro anos, serão eliminar a pobreza extrema e melhorar a qualidade da saúde e da educação, mantendo a estabilidade econômica e inflação baixa.
Ela disse que quer as taxas de juros reais, atualmente superiores aos de qualquer outra grande economia, em queda de 5% para 2% até 2014. Mas a inflação subiu para 5,6% em novembro. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que manterá o seu trabalho sob Rousseff, elevou as reservas bancárias e os requisitos necessários para o capital, em uma tentativa de esfriar a economia de forma a evitar aumentos. Embora o Banco Central tenha sido parceiro, o relatório trimestral de inflação, divulgado em 22 de dezembro, deixou claro que o alívio é temporário. Muitos economistas esperam um aumento de meio ponto na taxa básica de juros Selic (hoje 10,75%) em janeiro, e mais dois ou três aumentos durante o ano.
Isto irá colocar pressão crescente sobre a moeda brasileira, cujo valor mais que dobrou em relação ao dólar durante os oito anos de Lula como presidente. Tony Volpon, do Nomura Securities, uma corretora de valores, estima que o Tesouro do Brasil está perdendo cerca de R$ 40 bi (US$ 24 bi) por ano, ao vender Brazilian Bonds a estrangeiros, para investir esses recursos instrumentalmente, com o dólar cedendo menos dez pontos percentuais. Em outubro Mantega triplicou o imposto sobre os investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa para tentar conter a inundação. Mas o real terminou o ano sem novas baixas.
Para as taxas de juro e a moeda que eles focaram, forem cair como Dilma Rousseff quer, ela vai ter que reduzir o frenético aumento dos gastos federais. Os projetos de lei para salários e pensões aumentaram esses mais que a inflação nos últimos anos. A tarefa de manter a inflação sob controle foi deixada inteiramente à política monetária. Nos últimos três anos, o governo aumentou os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento, o BNDES, em pelo menos 210 bilhões de reais, permitindo-lhe ampliar os empréstimos para projetos de infra-estrutura e uma série de outros empreendimentos que não tão obviamente merecem o apoio do Estado. Segundo o IPEA, um instituto de pesquisas econõmicas ligado ao governo, os juros subsidiados BNDES custarão para os contribuinte até R$ 21 bi anuais.
Dilma Rousseff tem falado da necessidade de acabar com a incontinência fiscal: Ela quer reduzir a Dívida Líquida do governo, de 42% para 30% do PIB durante seu mandato. Ela está resistindo à pressões de seu Partido, PT, e aliados para um grande aumento no salário mínimo. No final de novembro Mantega disse que ele daria ao BNDES em 2011 apenas metade do financiamento extra deste ano. Para incentivar o setor privado a assumir os espaço de folga nos investimentos ele vai cortar impostos como bônus para os novos projetos de infra-estrutura aprovados pelo governo. Mas, enquanto os elevados retornos em papéis governamentais estiverem disponíveis no curto prazo, cortar impostos pode não ser suficiente apetitoso para atrair investimentos no longo prazo.
Lula escolheu Dilma Rousseff como sua sucessora, em parte, porque as alternativas mais óbvias estavam envolvidas em vários escândalos. Mas ele também viu nela alguém que poderia transformar grandes planos em realidade. O Brasil durtante muito tempo gastou pouquíssimo com infra-estruturas e o crescimento econômico faz este o déficit sempre mais dolorosamente evidente. Como ministra da energia, Dilma Rousseff manteve as luzes acesas, depois de uma seca em 2001 que levou ao racionamento de energia elétrica. Ela passou a executar um programa governamental gigante na infra-estrutura, conhecido como PAC: Lula durante sua campanha eleitoral, a apelidou de "Mãe do PAC".
Se ela falhar nesta frente, sabe que será com o mundo observando. O Brasil vai sediar a Copa do Mundo em 2014. Até lá também ficará claro se o trabalhar para os Jogos Olímpicos, a realizarem no Rio de Janeiro dois anos mais tarde, estarão indo no caminho certo. Os aeroportos são a preocupação mais premente: O número de passageiros cresceu 13% em 2009 e um forte crescimento ainda é esperado. Mas a maioria dos principais aeroportos já estão operando acima da capacidade.Eles são administrados pela Infraero, uma empresa estatal dominado pela Força Aérea que é um exemplo brasileiro para a obstrução burocrática e a incompetência. Dos mais de 5 bilhões de reais destinados a Infraero para investimento em período que antecedeu a 2014, mais da metade está nos projetos, que já estão atrasados.
Rousseff considerou afastar a Infraero do Ministério da Defesa e transferi-la para o ministério dos Portos. Isso teria tornado mais fácil atrair recursos privados, e, talvez, a gestão privada também. Uma greve do empregados de empresas aéreas, evitada por pouco, por aumento de salários, na véspera do natal, pode ter consequências na movimentação do feriado.
O maior obstáculo aos planos Rousseff para gastar menos no dia a dia, a fim de investir na infra-estrutura, que é onde ela imagina que será lembrada, serão seus companheiros políticos. Se ela já não soubesse disso, recebeu um lembrete em 15 de dezembro, quando os membros do Congresso se auto-concederam um aumento salarial de 62%. Muitos governos estaduais e municípios já seguiram o exemplo. Se todos o fizerem, o custo total será de cerca de 2,2 bilhões de reais por ano. Em um raro erro de julgamento da opinião pública, Lula, rindo, lamentou o azar de estar saindo um pouco antes que generosidade houvesse chegado. "Eles estão brincando com o nosso dinheiro", dizia uma manchete de jornal. Nos aeroportos, os manifestantes carregavam cartazes cobrando a razão pela qual os políticos podem receber aumentos salariais enormes, mas eles não podiam. Sua greve ainda pode acontecer no ano novo, trazendo Rousseff de volta a terra, com um solavanco.