Em julho de 2010 a Revista Política Democrática publicou um pequeno texto que escrevi sobre a situação na Europa: “Para onde caminha a Europa”. O texto eu escrevi por volta de maio e era mais uma reflexão sobre a crise e o projeto socialista. Naquela altura a maior parte dos prognósticos e avaliações apontavam a recuperação da economia continental. Na contramão dessas leituras eu percebia uma dificílima recuperação, principalmente por conta da política. Publicado o texto muitos o consideraram vencido, contudo os fatos recentes, talvez por isto seja bom escrever e datar, mostram que a avaliação que fiz não estava errada.
Mas por qual motivo lembrar agora desse texto? É por considerar que os limites de nosso 2011 estão na crise européia, embora também estejam na americana.
Não é preciso um estudo muito profundo para perceber o quanto a situação externa impulsionou o crescimento brasileiro nos últimos anos. Também é mais ou menos evidente o formato do trenzinho da mundialização com a China fornecendo, às custas do processo de desindustrialização primeiro na Europa e Estados Unidos é bom registrar, produtos industriais e o Brasil fornecendo para a China commodities para a elaboração desses produtos.
A crise na Europa e nos Estados Unidos coloca em cheque esse modelo e aponta para a necessidade de maior investimento no mercado interno. Certamente isso explica a concentração de recursos no BNDES e também o forte interesse na redução da taxa básica de juros. Acredito que viveremos em 2011 o início de um processo bastante focado nas oportunidades do mercado interno brasileiro e suas três “alavancas”: Pré-Sal, Copa e Olimpíadas.
Para quem considerar que o processo se basta por aqui a leitura do nacional-desenvolvimentismo estará um seu ápice.
Para quem, como eu, acha que o processo nacional-desenvolvimentista vai se esgotando a conclusão é que até poderemos crescer, mas estaremos condenados a outra década de mediocridade.
Menos mau para Lula, que precisa ter em Dilma um governo medíocre, garantindo assim sua volta redentora em 2014.
Demetrio Carneiro