terça-feira, 21 de dezembro de 2010

UM POSTE CHAMADO DILMA

O radicalismo petista despreza a democracia representativa e suas instituições. Não tem sido outro o comportamento de Lula e seu grupo e as eleições foram, digamos, um dos pontos fortes do processo.
Deve ter sido muito estimulante, já no primeiro governo, quando se deram conta de que o grosso dos agentes políticos e representantes do poder real estavam dispostos a negociar votos e posições em troca de poder&dinheiro e que ter projetos era o menos importante. Foram oito anos do mais completo pragmatismo que acabou justificando a visão do sistema representativo brasileiro como um lixo.
Não é um acaso o pesado investimento governamental nas estruturas participativas e é de se imaginar futuros investimentos nas estruturas de democracia direta.
Faz parte do projeto de poder lulo-petista o uso manipulatório, e é bom deixar claro: consentido, do regime representativo. Realmente olhando da posição deles, compradores, para a estrutura parlamentar, governos estaduais e municipais, vendedores, é possível imaginar o desprezo.
É provável que esse desprezo esteja na raiz do comportamento francamente desmoralizador das instituições republicanas e federativas.

“Num cenário de a Dilma fazer um governo bom, é evidente que ela vai à reeleição. Se houver dificuldades, e ele for a solução para a gente ter uma vitoria, ele pode voltar”. Este comentário de Gilberto Carvalho, que é o futuro Secretário-geral da Presidência não poderia ter outra interpretação que não fosse o desprezo não por Dilma, vista aqui como um fantoche a ser manipulado pelo grupo, mas da própria instituição da Presidência da República.

Nossas instituições resistirem a mais quatro anos seguidos na mesma situação?
Há uma clara estratégia de desmonte da democracia representativa e o reforço paralelo das estruturas de democracia participativa em andamento.
A democracia participativa não deveria ser desvantajosa para a consolidação do processo democrático. Infelizmente não é o nosso caso. A cooptação pró-governamental é a métrica das entidades do movimento social.

O ponto de resistência não são os partidos políticos, mas deveria ser a cidadania.
Partidos políticos como os nossos, construídos sobre o personalismo e o “se dar bem” são peças auxiliares do processo, fazem parte orgânica dele. Daí nossa “oposição” ser o que é.
Com nosso pesado déficit de cidadania dá para imaginar que há um longo caminho pela frente.

Demetrio Carneiro