sábado, 11 de setembro de 2010

A SINA DE SER OPOSIÇÃO

Ao texto do César Maia, que foi redigido antes da última Datafolha, 10, abaixo, eu gostaria de acrescentar:

Sem discutir o evidente abuso de poder, no quadro geral é apenas mais um abuso de uma longíssima série, acho que há um forte recado “para dentro” de que o grupo de poder à volta de Lula não aceita qualquer tipo de autonomização. E está no jogo, qualquer que seja o próximo governo.

Olho para isto como um forte potencial de crises políticas num possível governo Dilma. Mas, ganhando Serra, acho que é também um forte indicativo de que este grupo de poder não dará ao presidente os benefícios de uma oposição de baixa combatividade.

Teremos pela frente, de uma forma ou de outra, tempos bem complicados.

Escolhas eleitorais envolvem manter, perder ou ganhar. No caso de Serra o que ele teria que ter mostrado é que o eleitor poderia trocar o presente pelo futuro, pois teria ganhos. O erro foi ter achado que se daria apenas pela confiança cega na sua capacidade gerencial. A estratégia de campanha de Serra não previu que parte do convencimento teria que vir de uma demonstração concreta das falhas existentes e da proposta de correção e que o campo desse tema seria o debate eleitoral programático. Nele o eleitor poderia se posicionar e decidir se seria melhor manter esta linha de governo ou se seria melhor mudar a linha de governo. Perdemos a oportunidade de um grande debate que pusesse frente à frente diferentes propostas de desenvolvimento que apontam para diferentes futuros possíveis.

O que vem ocorrendo agora é que parte da classe média urbana, posta de lado no debate presidencial e por isto se afastando da candidatura de Serra, percebeu os riscos inerentes ao gesto autoritário, na devassa fiscal, deste governo. Também percebeu a apatia institucional ou até mesmo a solidariedade corporativa dentro do aparelho de Estado. Há uma clara percepção de perda futura para segmentos que consideram a liberdade frente ao Estado como uma questão principal. Uma questão de cidadania num país cujo déficit de cidadania é monumental. Daí a pesquisa desta sexta que não captou nenhum movimento sginificativo. A indignação de alguns segmentos não foi suficiente para alterar as pesquisas e produzir a “virada” que muitos ansiavam.

Com a baixa classe média em ascensão, justamente o segmento que cresceu em poder de voto, as coisas são diferentes. Estes segmentos permanecem dispostos a avaliar a política pelo lado dos ganhos presentes. Os dados da última PNAD já informam que a classe C tem mais de 50% da população. Definitivamente o Brasil vira um país de classe média, baixa. A teoria política sempre coloca que o drama da classe média é manter seu status. Não parece que os segmentos da classe C se sintam em perigo frente a um continuísmo via Dilma. É com este fato que a oposição(?) deverá saber lidar. Na realidade a matemática de luta pelo poder ficou mais complexa. A estratégia de Serra tentou lidar com esta questão, mas falhou.

Os partidos políticos brasileiros lançam diferentes olhares paras a questão de cidadania. Essencialmente o que parece é que a cidadania ativa incomoda à maioria, pois o eleitor-cidadão talvez não esteja tão disposto às manipulações que ocorrem dentro das máquinas partidárias. Quem tiver alguma dúvida à respeito deve acompanhar as convenções eleitorais que definem candidatos e programas de partido. Da mesma forma o nível de cobrança na qualidade dos programas e sua execução seria outro. Por ora parece que todos têm a ganhar com o quadro atual. Se não tivessem deveriam ser os partidos os primeiros interessados na qualificação da cidadania.
Não é o que acontece.

Demetrio Carneiro

LULA E AS PESQUISAS QUE VIRÃO!

1. Recomenda Duda Mendonça, controller dos programas de Dilma: Quem bate, perde. Por que então Lula bateu em Serra no caso das quebras de sigilo fiscal de pelo menos 1400 pessoas e de pessoas ligadas ao partido opositor? Por que Lula foi pessoalmente a TV atacar, ocupando um terço do horário eleitoral de Dilma? Por que não foi um locutor, como seria apropriado em casos como este?

2. A participação de Lula tem dois aspectos 'ocultos pelo verbo', como se diz nas aulas de português. O primeiro, Lula ao entrar no programa de Dilma pessoalmente, informa que Dilma não sabe se defender e nem comanda seu próprio programa de TV. O eleitor deduz que se ela não coordena seu programa, como será no governo? Se não é a atriz principal, como será no governo? Precisa da presença do padrinho. Isso a enfraquece.

3. O segundo é que os números de pesquisas -qualitativas e quantitativas- internas já refletem isso, e, num risco de segundo turno, chamaram o 'salvador'. Todos sabem que uma pequena inflexão nos números de Dilma leva ao segundo turno. Basta ela apontar para 45% das intenções de voto para se estar na margem de erro em relação ao segundo turno.

4. Como a opinião pública é afetada por ondas, a primeira já produziu efeitos, e as que vêm sempre empurradas pela primeira também terão efeito. Não que isso inverta a liderança nas pesquisas. Mas que o segundo turno passou a ser uma probabilidade, isso passou. Talvez hoje a possibilidade de um segundo turno já esteja em 50%.

5. Os riscos sentidos por empresários e classe média com renda mais alta em relação a seus sigilos fiscal, bancário e grampos generalizados, já afetam sua decisão de voto, que começa a deixar de ser do tipo "tanto faz". A privacidade atingida já é percebida por esses segmentos. Se alcançar parte dos demais, ainda não se sabe. Mas no andar de cima, já alcançou.