É interessante como algumas coisas convergem.
Em matéria do JB Online, 12, Marcelo Neri da FGV faz uma correlação direta entre desigualdade e escolaridade.
Neri comemora a mudança no Índice de Gini, entre 1996(0,6068) e 2009(0,5448), mas lembra da Índia, por exemplo(0,300) e assinala que, no caso brasileiro, a redução se deu via maior presença e maior permanência de jovens e adolescentes nas escolas.
Na realidade isso joga uma luz sobre o papel do conhecimento num mundo onde as transformações são aceleradas e as informações mais importantes não são mais passadas de uma geração para outra. O conhecimento vem se produzindo dentro do espaço de uma mesma geração e chega a ser alterar dentro dela. A família e o trabalho não são mais suportes eficientes para a transferência de conhecimento. Este papel passa a caber à escola, um primeiro lugar, e a todo um conjunto de estruturas de capacitação para o trabalho.
Enfim, sem escolas e sem permanência de crianças e adolescentes nas escolas as chances de mudança no esquema de equidadade são nenhuma.
Estou sempre batendo na tecla da “mudança de rumo” feita no Plano Plurianual Anual-PPA vigente. O PPA é o planejamento de longo prazo: 4 anos, da gestão pública e é nele que ficam inscritos os programas prioritários para o período. Na realidade o PPA é um grande modelador de políticas públicas de longo prazo. O atual começava em 2007 e vai até 2011. Sua “marca” era a qualidade do ensino básico. Por razões já bem conhecidas houve a mudança de rumo e o eixo central do PPA virou o PAC e a questão da educação foi, digamos, reposicionada como uma das questões do PAC. Sendo PAC este espetacular exemplo de propaganda eleitoral casada com ineficiência gerencial, a educação obviamente sofreu todas as conseqüências.
Agora, vamos aguardar o próximo governo e observar.
O que é certo é que a educação tanto pode servir, sendo eficiente, para quebrar a escrita e romper a desigualdade, como pode, ao inverso, por ser ineficiente, ser ela própria, a educação, garantia da sua reprodução e até ampliação.
Outro dia o relatório do Fórum Econômico Mundial nos colocava com péssimas notas com relação ao sistema educacional. Confira ai.
Num texto, em inglês, publicado no Washington Post, Ezra Klein, referindo-se aos EUA, comenta:
"Habilidade de seguir tendências de mudança tecnológica", ..., essencialmente, sugere que as mudanças tecnológicas transformaram a economia de tal forma que criaram muitas oportunidades para os trabalhadores de grandes habilidades e tiraram oportunidades de trabalhadores com poucas habilidades. Se essa mudança ocorreu mais rápido que o mercado de trabalho possa ter tido meios de se adaptar, é uma culpada plausível para o aumento da desigualdade.
Acho que podemos ficar por aqui.
Demetrio Carneiro