domingo, 12 de setembro de 2010

ADEMAR DE BARROS, O CARA



Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo, um dos mentores pré-golpe de 64, junto com outros dois governadores: Carlos Lacerda(RJ) e Magalhães Pinto(MG), formou a trinca de governadores que formularam o lado civil do movimento de resistência à Jango.
Logo pagariam a conta e seriam engolidos pela nova formulação de poder civil-militar.

Historicamente a questão dos governadores fortes do pré-golpe, devemos somar ai Brizola e Arrais do lado governista, acabou estimulando o início de um processo de centralismo executivo que permanece até nossos dias.
A centralização do controle das polícias fardadas estaduais, sua efetiva militarização foram o lado mais formal.
Muitos não se dão conta de como é errado discutir a questão federativa sem remontar a essas origens.

Mas Ademar também foi o cara do sonho paulista. Pertence a uma linhagem de governadores que estimulou a sociedade sobre quatro rodas, o mais poderoso paradigma do atual modelo de desenvolvimento.
A política viária de Ademar ajudou a dar as ruas para a frota particular circular com desenvoltura.
Foi a época do “Rouba, mas faz”. Dístico, de forma muito coerente, tomado por Maluf.

De certa forma a completa alienação da cidadania com relação aos sucessivos escândalos econômicos é um pouco desta lógica.
Apenas é outro paradigma. No lugar da “Sociedade sobre quatro rodas” temos a “Sociedade da justiça social”. A postura é a mesma: Roube-se, mas se façam estradas e ruas – no passado – ou se preste assistência – no presente.

Nas palavras de uma amiga, Helena Werneck, é o “feel good”, o sentimento de bem estar que acaba favorecendo a estrutura de poder existente.
Em qual momento esta classe média irá compreender a baixa sustentabilidade desta proposta e buscará opções de mudança é uma das questões que certamente irão estar no centro do debate futuro.

Agora, mais um escândalo e novos debates sobre o quanto as notícias poderão impactar a percepção do eleitor ou se serão capazes de levar as coisas na direção de um segundo turno. A não ser que as teorias conspiratórias estejam certas as pesquisas não captaram mudanças evidentes com relação ao problema da Receita. Provavelmente não mudarão muito com relação ao novo escândalo.

Que o escândalo apareça na Casa Civil não é nada original. Não esqueçamos o inesquecível José Dirceu. A reação de Dilma é clássica.
Que Lula e seu grupo são mais eficientes que Collor e seu PC e vão organizando as bases financeiras de um projeto para os próximos mil anos também fica muito evidente.

Nosso problema continua sendo o de sempre, entra escândalo sai escândalo, vai ficando mais evidente que há um altíssimo grau de incompatibilidade entre corrupção, na escala que ocorre, e uma democracia aberta.
O risco é crescente e real.

Demetrio Carneiro