A história da Receita já está bastante pautada por toda mídia.
Aliás muito interessante assinalar que a mídia tem composto uma forte linha de resistência. O, certamente, reforçará os argumentos para um maior “controle social” sobre o que ela faz.
Muito bem, meu ponto é que vivemos novo período de crescimento de risco. Não me refiro ao risco dos bancos estatais, que já preocupa as agências de risco. Me refiro ao risco republicano.
Nossa Constituição prevê uma república democrática. Estes termos são inseparáveis. Pela lógica de nossa lei maior, e de toda a luta para chegar até ela, ou temos uma república “democrática” ou não temos nada.
O aprofundamento do risco se dá por mecanismos de gestão de poder que vão se organizando. Nenhuma dúvida de que esse trabalho de levantamento de dossiês já se tornou uma rotina institucional, portanto pode ser visto como um mecanismo permanente de gestão de poder. Juntando todas essas pequenas peças, dossiês, “controles sociais”- no mal sentido do termo, aparelhamento, compra de posições, centralismo executivo etc. o resultado final certamente não é uma República Democrática.
O problema é que parte de nosso drama está no fato do forte rastro autoritário presente até mesmo na oposição. Nenhuma dúvida de que também na oposição existem defensores do centralismo executivo, do Estado “acima de tudo” etc. Talvez seja isso que formata nossa oposição envergonhada.
Conforme comentei em outro post não tenho nenhuma dúvida em apontar uma questão de garantias constitucionais neste affaire dos dossiês.
É por isto que o caminho adotado pelos gênios da campanha de Serra foi o pior possível.
O fórum não é o tribunal eleitoral e o objeto não é Dilma, mas o próprio poder executivo central já que a quebra se deu dentro do aparelho mais sensível de Estado.
A missão do presidente é garantir a Constituição. Se ela não se realiza satisfatoriamente o presidente pode sim ser questionado.
De todo este imbróglio fica mais uma dúvida: Este formato de oposição, com forte vertente autoritária, é realmente capaz de produzir um movimento, digamos insistente, de luta pela permanência da república democrática?
Ironicamente, na ascenção nazista, o Partido Comunista Alemão não via no Nacional Socialismo um opositor feroz. Preferiram escolher como opositor principal a Social Democracia. Deu no que deu. Talvez o fato de terem vertentes autoritárias seja uma das soluções do problema.
Muitos analistas olham para este tipo de colocação um alarmismo e informam que não há nada a temer. Que nossas instituições são sólidas. Que resistirão a qualquer embate.
Tomara que estejam certos. Foi mais ou menos a linha de fala do Adolfo Sachsida em resposta à crítica a um post seu quando tratou do mesmo tema.
Do meu lado assinalo, precaucionalmente, essas questões. A experiência de 64 mostrou que não adiante chorar sobre o leite derramado.
Demetrio Carneiro