domingo, 1 de julho de 2012

A CIÊNCIA, O AQUECIMENTO GLOBAL E A PRUDÊNCIA

Nada mais complexo do que o debate sobre o aquecimento global. Não estamos lidando com a análise do que já ocorreu, mas do que está em andamento. 


Se fôssemos falar do passado talvez houvesse menos interesses envolvidos e a avaliação talvez, também, pudesse ser menos interessada. 

Falando do presente e do futuro qualquer leitura, favorável ou não à tese de que o aquecimento é real, acaba remetendo para algum tipo de interesse que está fora do espaço da objetividade científica. 

O debate do aquecimento entre nós brasileiros não é tão intenso e, de modo geral, as posições são pelo reconhecimento de que o aquecimento existe, mas nos Estados Unidos há debate e é pesado. Não envolve apenas cientistas, mas inclusive grupos religiosos, dos dois lados, e lobbies da indústria. Especialmente esses últimos realizam vigorosas campanhas. 

O que tem sentido, pois uma das premissas principais dos que acreditam que há aquecimento é a mudança do perfil da produção moderna na direção do que se chama baixo carbono, mudando radicalmente os estândardes de produção e também de consumo. 

O blog americano Economist’s View, de Mark Thoma, professor de economia da Universidade do Oregon, trás hoje, 1º, um pouco do debate, com direto a um comentário de Thoma:

“Eu pensava que a física e sua aderência ao método científico fosse supostamente livre das controvérsias sobre modelos, políticas , etc. que são a praga da economia. 

É um debate interessante este sobre a possibilidade da economia ser uma ciência, no sentido de ser exata, totalmente objetiva, quando a própria Teoria da Relatividade reconhece que a posição do observador pode influenciar a sua leitura do universo físico. 

Fica mais interessante ainda quando o Thoma acha que a física estaria livre desta praga. 

Para confirmar a sua tese sobre a dubiedade ele apresenta os ponto de vista, opostos na questão do aquecimento global, de dois renomados, e laureados pelo Nobel, físicos da atualidade, apresentando o resumo de suas palestras a serem feitas amanhã, 2, e depois de amanhã, 3, na 62ª Reunião Landau dos laureados com o Prêmio Nobel (física) que acontece na Alemanha a partir de hoje. 

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Resumo de Ivan Giaever: 

O estanho caso do “aquecimento global” 

Participei em 2008 de um painel sobre Aquecimento Global, apresentado numa Reunião Landau daquele ano. Para me preparar busquei pelo tema na internet. Concluí que a crença geral é que a medida da temperatura na superfície do planeta crescera de -288 oK para 288,8 oK, isto é 0,3% ao longo de 150 anos e que isto se deveria ao incremento na produção de CO2. Se fosse verdade a mim parecia que a temperatura vem sendo agradavelmente estável. 

Neste mesmo período a população mundial cresceu de 1,5 bilhões para 7 bilhões. Não seria possível que as estradas pavimentadas e a derrubada das florestas tenham causado algum efeito no clima? 

A APS (American Phisical Society – Sociedade de Física Americana) pensa diferentemente entretanto, como fica expresso em sua posição pública: 

“As emissões dos gases do efeito estufa por conta da atividade humana mudaram a atmosfera por caminhos que afetam o clima da Terra. Os gazes do efeito estufa incluem o dióxido de carbono, assim como o metano, óxido nitroso e outros gazes. São emitidos a partir de combustíveis fósseis e por um conjunto de processos industriais e agrícolas. 

A evidência não admite controvérsias: O aquecimento global está em andamento. Caso não haja ações de mitigação poderemos ter uma significativa disruptura passível de ocorrer nos sistemas físicos e ecológicos do planeta, sistemas sociais, segurança e saúde humana. Precisamos reduzir a emissão dos gazes de efeito estufa apartir de agora.” 

No entanto eu acredito que nada a ciência é incontroverso e, em minha opinião, a APS tornou-se uma sociedade política (religiosa?).

Consequentemente renunciei a ela no outono de 2011. 

Nesta fala explanei porque cheguei a essas conclusões sobre o clima. Particularmente fiquei atemorizado pela propaganda tendenciosa da mídia. Pessoalmente estou preocupado com o volume de gastos em energia alternativa quando tantas crianças vão para a cama com fome em todo mundo. 

Se você acredita que o aquecimento global está ocorrendo e que a causa é o CO2, apresar do que falei, eu apontaria duas coisas que podem salvar o mundo: 

1 - Introdução da energia nuclear; 

2- Limitação do crescimento populacional pela adoção da norma uma mulher = um filho. 

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Resumo de Mario J. Molina: 

A Ciência e a Política da Mudança Climática 

A mudança climática é o mais sério desafio ambiental enfrentado pela sociedade no século 21. A ciência básica é clara: O Painel Internacional sobre as Mudanças Climáticas (IPCC – International Painel of Climatic Changes) concluiu que há mais de 90% de probabilidade que as atividades humanas estão causando as mudanças observadas na mudança do clima planetário nas décadas recentes. A medida da temperatura na superfície do planeta cresceu 0,8 graus Celsius a partir da Revolução Industrial e a frequência dos eventos extremos com a seca, inundações e furacões mais intensos aumentou, em boa parte por consequência dessas mudanças.

Existem incertezas científicas que precisam ser trabalhadas, conectados com essas questões como o efeito de retorno das nuvens e aerosóis. Entretanto, há o consenso entre os espertos de que os riscos causados pela mudança climática crescerão rapidamente quando o aumento da temperatura for de mais de dois ou três graus Celsius. 

A sociedade enfrenta o enorme desafio de reduzir efetivamente a emissão dos gases do efeito estufa que interferem perigosamente no sistema climático global. Esse objetivo só será alcançado assumindo simultaneamente um significativo incremento da eficiência energética nos transportes, construção, indústria e outros setores, utilizando energia renovável como a solar, ventos, geotérmica, biomassa e com o possível desenvolvimento de plantas seguras de energia nuclear. 

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Ai está são opiniões contundentemente diferentes, embora no fim de sua fala Giaever conceda não ser tão convincente e faça o que podemos chamar de uma sensata fala prudencial, tocando em dois temas bem provocativos: Uso de energia nuclear e controle populacional. 

Para todos os efeitos é bom registrar que a produção per capita de CO2, medida em escala global, caiu mais a produção total, também em escala global tem subido e muito, nos últimos anos. Quer dizer, ao mesmo tempo que investimos na redução de CO2 e conseguimos a redução, outras portas se abrem e no total a produção cresce para além do desejável. Muito além, se a relação “+gases=temperatura+alta” estiver correta. Nesta linha as predições são de uma estabilização lá pelo ano de 2100, quando provavelmente será tarde para reverter as mudanças climáticas. 

Claro, temos a considerar os avanços da ciência, investimento em novas tecnologias como a produção de bactérias capazes de fotossíntese etc. 

Essa mesma fala prudencial está no recente livro 2052, de Jorgem Randers, um dos responsáveis pelo famoso relatório do Clube de Roma "Os Limites do Crescimento". 

O problema da fala prudencial, como ressaltamos na abertura do post, são os custos de um intenso investimento em novas tecnologias, abandonando as antigas. 

Custo políticos em termos de votos de eleitores que podem se sentir retirados de suas zonas de conforto por meio de processos que gerarão fatalmente desemprego na economia, mesmo que gerem novos empregos. 

Poucos estão dispostos a trocar o presente acomodado pelo futuro incerto... 

Demetrio Carneiro