Logo que assumiu o governo Dilma deixou claro uma mudança de pensamento econômico. A implementação da relativização das metas de inflação era um sonho antigo em todos os segmentos do nacional-desenvimentismo.
Da oposição à situação a linguagem comum sempre foi de crítica ao jogo do controle da inflação num campo mínimo de variação entorno do centro da meta e do uso da taxa básica da economia como um restritor do crescimento da inflação além do ponto central. Nisso a relativização foi uma solução, pois ao mirar as proximidades do teto e com a inflação se comportando dentro do intervalo de 2% acima da meta ou um pouco além desse teto, abriu-se espaço para a queda da taxa básica. De alguma forma a desaceleração da economia, retirando a pressão sobre o limite do produto potencial, acabou se alinhando com a expectativa de baixa da taxa. Feitas as contas a taxa básica baixou significativamente e contribui para a redução do custo da dívida. Nesse sentido o argumento nacional-desenvolvimentista funcionou. Pelo menos até agora.
Onde o argumento não está funcionando é no motivo para relativizar a meta de inflação. A outra mudança na linha de pensamento foi o foco no emprego da economia. É da teoria política a ideia de que há um ciclo político onde o agente político aceita sacrificar a taxa de inflação para gerar emprego via estímulos públicos diretos e indiretos. Era isso que Mantega vinha querendo em todos os anos do governo Lula e essa foi a razão de seus choques com Palocci. Agora se abria à equipe econômica no Ministério de Fazenda a chande de ter mais liberdade na política fiscal. Antes atrelada às restrições ortodoxas da política monetária. A heterodoxia se confirmou.
Sem dúvida a geração de emprego tem forte conexão com a zona de conforto do eleitor. O Estado gasta para estimular a economia privada a manter seu ritmo de emprego viabilizando empregabilidade para o mercado de trabalho. Se considerarmos que a massa salarial ainda vem tendo reajustes em valores reais bem acima do PIB, num mundo de lógicas planas tinha tudo para dar certo. Mas o que fazer quando dar liquidez à economia não resolve tudo? Quando a expectativa dos agentes passa a ser mais importante que seu espírito animal? Esse é o novo desafio da equipe econômica. Aparentemente a zona de conforto da própria equipe não foi afetada, até agora, visto que o governo, e o FMI, joga todas as suas fichas numa recuperação no segundo semestre deste ano.
Vamos aguardar e ver. Por enquanto dos dados medidos na sua base primária, como o CAGED, não dão margem para muito otimismo.
Junho 2012 comparativamente a junho 2011 gerou 44% menos empregos líquidos. Se olharmos para o maior empregador brasileiro que é o setor de serviços, 49 % de todos os empregos líquidos brasileiros estão ai, os números também não são tão animadores.
Junho de 2012 - 30.141 empregos líquido.
Junho de 2011 - 45.961 empregos líquidos.
Maio de 2012 - 44.507 empregos líquidos.
Desagregando para o sub-setor de comércio, administração de imóveis e serviços técnico-profissionais, que geram 15% de todos os empregos líquidos nacionais...
maio de 2011 - 20.506 empregos líquidos
maio de 2012 - 8.968 empregos líquidos
junho de 2011 - 12.468 empregos líquidos
junho de 2012 - 4.140 empregos líquidos
O que estamos presenciando é o centro do projeto político-econômico de Dilma balançar.
Demetrio Carneiro