Cruzando por acaso com uma notícia de fevereiro passado: MPF quer tirar de circulação dicionário de Houaiss.
A história começa quando ciganos ou seus descendentes protestam junto ao MPF pelo fato do dicionário definir cigano como sinônimo de trapaceiro, velhaco etc. É no mínimo curioso que um promotor imagine que está defendendo a sociedade ao exigir que se retire de um dicionário um termo de domínio público.
Na leitura da autoridade "Trata-se de um dicionário. Ninguém duvida da veracidade do que ali encontra. Sequer questiona. Aquele sentido, extremamente pejorativo, será internalizado, levando à formação de uma postura interna pré-concebida em relação a uma etnia que deveria, por força de lei, ser respeitada", acrescentou o procurador.".
Como Houaiss já faleceu talvez ele pretenda que os herdeiros anexem, quem sabe, um vídeo pedagógico, uma aula de Moral e Cívica, quem sabe?, explicando que o termo é empregado em todo o Brasil como sinônimo dessas coisas etc., mas que não é politicamente correto etc. Ou talvez fosse melhor mesmo suprimir termo, quem seba assim as pessoas não "esqueceriam" e na outra ponta surgisse nos próximos anos a correta conceituação?
Não sei como terminou o assunto, mas certamente é um bom exemplo do quanto o Estado não deve intervir em certas questões. Um dicionário apenas reflete os fatos e fatos são fatos. A comunidade cigana brasileira tem todo o direito de protestar. O MP pode ajudar pressionando o governo para campanhas de esclarecimento sobre esta minoria. Contudo suprimir os fatos não muda nada, mas ajuda muito a consolidar uma falsa leitura de que o Estado é mágico e ele não é...
Demetrio Carneiro