Para Nomura, Dilma deve adotar modelo chinês na política econômica (já repercutido n'O Globo)
Fernando Taquari | Valor
SÃO PAULO - O Brasil deve adotar nos próximos anos uma política econômica baseada no modelo chinês. Para a equipe de analistas do Nomura Securities, que elaborou um documento sobre o país, essa será uma das principais mudanças no governo da presidente eleita Dilma Rousseff. A instituição admite que, à primeira vista, essa hipótese pode parecer absurda, já que são duas economias diferentes.
Hoje, a China tem um modelo de crescimento com foco nas exportações de manufaturados, alto índice de poupança e investimentos que geram superávit em conta corrente.
Já o Brasil é um exportador de commodities, com baixas taxas de poupança e com um enorme e crescente déficit em conta corrente. A equipe do Nomura, no entanto, lembra que o governo brasileiro já alterou sua política para um modelo inspirado na China.
Isso teria acontecido em 2008, quando o governo federal, em meio ao iminente aperto no crédito, decidiu capitalizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que o transformou no maior banco de fomento do mundo, com investimentos em torno de R$ 146 bilhões neste ano. Segundo a instituição, a oferta de crédito se tornou uma marca da atual política econômica e uma iniciativa de longo prazo.
O BNDES é hoje o maior financiador para projetos de infraestrutura e em setores onde o governo tenta predominar. Isso se ampliou de tal forma que a política monetária não pode ser discutida sem se levar em conta esses movimentos. Na visão da equipe, o maior sinal de que o Brasil copia o modelo chinês é o fato do banco de fomento ter se tornado na maior fonte de investimentos da economia nacional.
Outro indicativo, conforme o documento, é a taxa de câmbio. Depois de anos de um regime de transparência e livre flutuação do câmbio, o governo apelou neste ano para a imposição de políticas restritivas à entrada de capitais, sob a alegação de que precisa se proteger contra iniciativas do FED (FederalReserve).
Para evitar a entrada de capitais especulativos e conter a valorização do real, o governo brasileiro elevou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Uma terceira evidência seria a proximidade dos dois países nos fóruns mundiais, como o G-20. No recente encontro na Coreia do Sul, o Brasil apoiou a China nas queixas de que os Estados Unidos representam uma ameaça à estabilidade internacional. A crítica é direcionada contra decisão do governo de Barack Obama de injetar US$ 600 bilhões na economia norte-americana.
O Nomura acredita que a ideia de “copiar” o modelo chinês tem como base três razões. Primeiro, por conta dos laços econômicos entre as duas nações. A China representa hoje o maior mercado para os produtos brasileiros, sendo que neste ano, se tornou o maior investidor no Brasil.
Outro motivo seria que as autoridades brasileiras já esperam que Pequim irá ocupar o lugar do Estados Unidos como principal potência. Por fim, a última razão se justificaria pelo fato do modelo chinês se adaptar à ideologia do PT.
Acreditamos que o próximo governo vai utilizar mais oferta de crédito e outras medidas administrativas para tentar controlar a inflação e menos instrumentos monetários como a política de juros altos. A meta de inflação deve ficar subordinada a outras considerações, como a política fiscal e cambial, disse a instituição, que espera a continuidade de uma postura
intervencionista no câmbio e um papel central do BNDES na economia nacional.