sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CONSTRUINDO UMA NOVA LÓGICA DE OPOSIÇÃO

Para ter se transformado em um lugar comum a avaliação que já fazia durante todo o período eleitoral de que não havia um debate programático.
Publiquei aqui no Blog um bom número de posts criticando diretamente Serra e seu entorno e a oposição em geral pela falta de perspectiva programática.
Claramente a escolha de Serra deixou Dilma extremamente confortável. Ao ponto de ninguém conseguir ainda estabelecer o que realmente será seu futuro governo.
Adivinhações à parte estamos frente a uma caixinha de surpresas.

Contudo, também antes já não havia debate. Buscando nos primeiros posts, já vão dois anos, ou até no sentido de missão dessa proposta, já está lá a crítica do debate inexistente.
Durante quase todo o governo Lula, logo no início havia o sentimento generalizado de apoiamento, a oposição, assim que ela se estabeleceu de forma mais clara a partir dos primeiros escândalos de corrupção, se os no jogo como disputando poder. Alguma coisa muito parecida com a disputa sindical e talvez por isso Lula tenha navegado tão bem. Me explico: A oposição olhou para o jogo de poder como uma sistemática única de desmoralização do adversário.
Construi-se uma guerra de erros. A oposição acusava o governo por estar errando. O governo usava a mídia para falas manipulatórias tipo estamos acertando e o que eu erro é porque o erro vem do passado.
A grande aposta da oposição era de que a economia não estava resolvida e que a crise, devido à inabilidade gerencial, irá engolir o governo. Vieram os anos dourados da economia e sucessivos superávits orçamentários pavimentaram a estrada do gasto. O gasto de governo virou arma de alto calibre e devastou o arraial oposicionista no Congresso.

Perante a estratégia equivocada a oposição foi incapaz de se repensar e perceber que o grande debate era sobre o futuro e a capacidade desse modelo se reproduzir em escala mais ampliada ao ponto de garantir não o crescimento, mas o desenvolvimento.
Cega para esse simples fato a oposição foi incapaz de questionar o atual modelo e impotente para mostrar claramente suas grandes linhas de falha e suas inconsistências. A própria oposição foi incapaz de perceber o que foi simples crescimento derivado de conjuntura favorável do que deveria ter sido desenvolvimento.
Foi essa impossibilidade que gerou o debate das partes. O querer discutir isoladamente política econômica, política social, meio ambiente etc. só fez complicar mais o debate dado a incapacidade de estabelecer linhas de diferenciação que só aparecem com clareza no debate estratégico.
Devendo ter discutido primeiro a propostas de um outro desenvolvimento, derivado dela um programa e debatido esse programa, terreno de debate nitidamente desfavorável ao governo, a escolha foi pela derrota que já estava na escolha que foi feita.

Derrotada a oposição busca se repensar. Se esse repensar implicar apenas em mudar nomes e não processos mais uma vez não iremos muito longe.
Nada impedirá de Dilma produzir um governo entre o medíocre e o médio. O tal desastre adimistrativo pode não acontecer e o Estado brasileiro é grande o suficiente para absorver muitas manipulações criativas.

É hora de repensar o que estamos repensando.

Demetrio Carneiro