sábado, 13 de novembro de 2010

OS ALINHAMENTOS AUTOMÁTICOS NA POLÍTICA E NA ECONOMIA

Tem muita gente criticando o famoso “debate que não se fez”.
Desses, muitos, talvez por um deformado senso de disciplina eleitoral, apenas agora, no pós-eleitoral, se manifestam.
Outros, como eu mesmo, correram riscos e vieram já antes do primeiro turno criticando a falta de vontade política para o debate.
Seja lá como for o debate não houve.

Nosso principal problema é que já não havia debate antes. 
O durante a campanha foi apenas consequência do antes. 
O clima de despolitização da política já havia alcançado a oposição há muito tempo e a “aliança” dos partidos de oposição andou muito longe de ser programática. Foi uma aliança de forças díspares que eram oposição, por motivos díspares, ao governo federal. 
Enfim, foi uma estratégia de busca da alternância de poder em si mesma. O atual grupo de poder deve sair do poder primeiro porque é justo que eu vá para o poder. É a minha vez. Segundo porque eu sou “melhor”. 
 Se é justo que haja a troca de guarda e, ainda por cima, eu sou melhor para quê perder tempo com programa?

O debate que não se fez é resultado do fracasso desse tipo de oposição dicotômica: Eles são ruins porque nós somos bons.
A oposição dicotômica foi incapaz de perceber a importância do debate do desenvolvimento e da necessidade de outro desenvolvimento. Preferiu o debate das partes contra toda uma máquina de governo, como muitos recursos e bem articulada. Perdeu. Mas tinha mesmo condições de ganhar?

E o futuro?
O clima do debate político e econômico aponta algumas coisas.
Vai ficando mais claro que muitos já pensam em como sobreviver os próximos quatro, oito ou doze anos. Lentamente, mas de forma muito firme, vão aparecendo discursos justificativos de todo tipo. O que há em comum em todos é a extrema convergência para cargos no governo. Sobreviver é preciso e político profissional que se preze precisa do leite da viúva para si e para os amigos e amigos dos amigos. Somos todos igualitaristas. Ou não?

Na outra ponta os oposicionistas de oposição, a turma acima vai virar oposicionista de situação, vão repensando seu futuro sem se dar ao trabalho de repensar o seu passado. É normal. O passado dói.

Na ânsia de repensar o futuro começam os velhos e conhecidos cortes esquerda/direita.
Aqui também o debate de outro desenvolvimento como sua totalidade que tem em seu núcleo a democratização do Estado, é artigo de segunda. Importante é rapidamente estabelecer quem nós decidimos que é “direita” é quem é “esquerda”. Como é uma questão de auto-denominação e denominação do outro é fácil de resolver.
Se o debate do desenvolvimento é artigo de segunda a formação de uma ampla aliança, tendo por base a luta para que a democratização do Estado brasileiro se aprofunde e não recue, também é questão lateral de menor importância.

A oposição dicotômica do passado permanece dicotômica no presente e vai continuar dicotômica no futuro. Vai fracassar novamente.

O debate do desenvolvimento está muito longe de ser um debate maniqueísta esquerda/direita. Estamos em outro mundo e com outros paradigmas. O debate maniqueísta deveria ter sido sepultado sob os escombros do Muro.
O problema é que uma linha de corte tendo por base o desenvolvimento coloca lado à lado pessoas que ofendem as lógicas dessa cultura ancestral.

No debate econômico outra dicotomia vai se formando. Se o que é bom para o governo é ruim para a oposição, então...
Se o governo defende a política geral de estabilidade, mesmo que seja claramente uma assertiva formal, então o melhor que a nova oposição, “depurada” do mal, pode fazer é achar brechas no argumento.
Estruturas empresariais, que de bobas não têm nada, já vão achando o caminho do velho e querido protecionismo. No meio do caminho vão catalogando aliados de todo lado. Até mesmo da “esquerda” e da “direita”.
Do Banco Central, passamos para os juros e agora o debate acumula a questão cambial e a “voz comum” agora é a flutuação cambial “controlada”.
Mais uma vez quem quer saber de discutir o projeto de desenvolvimento ou ao menos as questões estruturais que fragilizam a economia brasileira e a deixam tão vulnerável ao resto do mundo?

Demetrio Carneiro