Agora pela manhã o Tony enviou uma nota sobre a sua percepção quanto ao que poderá ser a política econômica do futuro governo Roussef.
Aqui no Brasil muitos apostam que Dilma Roussef manterá a política de gastos, e o que terminou em irresponsabilidade fiscal, do atual governo.
Não é a avaliação de Tony, que dá suas razões e insights.
Reproduzo abaixo.
Demetrio Carneiro
Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT) venceu a segunda rodada da eleição presidencial este domingo, com 56 por cento dos votos contra 43 por cento para José Serra, do Partido Social Democrata (PSDB).
Em seu primeiro discurso como eleita Dilma Rousseff falou sobre a necessidade de erradicar a pobreza no Brasil, mas igualmente reafirmou seu compromisso com uma política econômica responsável.
De fato, o Broadcast (serviço de informações financeiras da Agência Estado – NT ) de hoje informa que o governo já vem trabalhando em um plano para trazer as taxas de juros reais, atualmente na região de 6%, para 2% até 2014.
O eixo central do plano será um retorno para o instrumental mais básico: 3,3% de meta do superávit primário (sem descontos para investimentos ou antecipações de receitas) e uma regra que regule o crescimento das despesas tornando-as inferiores ao crescimento da economia. Também devemos ver medidas para reduzir ainda mais a indexação dos preços na economia que gera forte inflação inercial.
Estas medidas foram formuladas pelo atual Secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, que deverá ter um papel de liderança na equipe econômica de Dilma Rousseff .
Como argumentamos em agosto (ver "primeiro Dilma 100 dias", 25 de agosto de 2010), essas medidas serão fundamentais para Rousseff afastar a sombra de seu patrono político, o presidente Lula, gerando uma ruptura decisiva com algumas das presentes políticas de governo e o pessoal que as executa.
Apesar de retratar-se a si mesma como uma "Candidato da continuidade", foi a estratégia eleitoral correta, a natureza altamente centralizada das demandas presidências brasileira determina Rousseff como o único centro de poder para governar eficientemente. Conquanto haja muitas maneiras de fazer isso, e alguém poderia imaginar uma guinada para a esquerda, o sinais enviados por Nelson Barbosa indicam o desejo de usar uma política fiscal mais apertada como a primeira iniciativa para diferenciar o novo governo.
Após a séria deterioração da política fiscal empreendido nos últimos anos, culminando com a utilização da oferta de ações da Petrobras para "antecipar" receitas, muitos participantes do mercado estão céticos quanto a Rousseff implementar uma política fiscal mais apertada.
O Brasil certamente parece ter sofrido um forte "ciclo político eleitoral": As despesas nominais, fora juros, em relação a 2009, cresceram de 9,95%, com base anualizada, em janeiro, para 19,51% em agosto. Despesas na casa de 20% são claramente insustentáveis e têm sido um importante elemento de estímulo à demanda e ao mercado de trabalho, aumentando as preocupações quanto ao controle da inflação.
Assim, enquanto no final do período de campanha, por si só constitui uma razão para retomar as despesas para num caminho de crescimento mais sustentável, acreditamos que o membros da provável equipe econômica de Rousseff entenderão que a abundante condição de liquidez torna possível trocar a política fiscal mais apertada por uma forte redução nas taxas de juros reais, onde a soma dos pagamentos de juros anuais é de mais de R$184 bi. O movimento de trabalhar na região da taxa de juros de 2% é um explícito e, a nosso ver, muito positivo, reconhecimento de que este trade-off existe e que está na hora certa de o perseguir.
Uma política fiscal mais apertada é a premissa-chave por trás da nossa não-consensual previsão de uma política de taxas baixas no próximo ano no Brasil, com a Selic caindo para 10% dos 10,75% atuais (ver “Nine reasons to receive rates”, 30 de setembro de 2010).
Na verdade, o Banco Central do Brasil reconheceu, na ata da reunião do Copom de outubro, que uma política fiscal mais apertada é condição necessária para a inflação convergir para meta.
Acrescentaríamos a isso a apreciação cambial muito maior que o que se espera (esperamos o USD/BRL a 1,55 na final do próximo ano contra uma expectativa mediana do mercado a 1,78 de acordo com a Pesquisa Focus semanal). Esta apreciação, nos nossos termos, será um driver necessário para uma Selic menor em 2011.
Embora as taxas futuras tenham caído em antecipação a essas medidas, o preço ainda está cerca de 150pp acima do que deveria estar. Nós acreditamos que a taxa continuará a cair assim que Rousseff nomear os membros de sua equipe econômica que, esperamos, estarão comprometidos com uma política fiscal mais apertada. Uma forte inflação visível, impulsionada principalmente pelo aumento dos preços dos alimentos, deve manter as taxas sob pressão ao longo dos próximos meses. No entanto, podemos usar o histórico das taxas para justificar, que a inflação dos alimentos provavelmente será uma inflação menor-que-o- esperado no início do próximo ano, da mesma forma que a alta inflação no início deste ano levou ao arrefecimento das leituras da inflação no meio do ano. Acreditamos que uma menor leitura de inflação e sinais concretos de política fiscal mais apertada no início do próximo ano, juntamente com a continua apreciação do Real, levarão o mercado a reduzir o atual não-razoável nível do prêmio de risco ao longo da curva de juros
Tony Volpon