Por mais que pessoas do BC procurem arrumar explicações a instituição sai do evento do PanAmericano bastante chamuscada.
Péssimo, já que o BC é a autoridade monetária do Brasil.
O governo Lula consegue bater o recorde de desmoralização das instituições. Só nos últimos meses foram problemas graves na Receita Federal, Presidência da República, Petrobras, Caixa Econômica Federal e, agora, o BC. Sem contar os sucessivos ataques contra o TCU e o total desrespeito às decisões do TSE. Os sucessivos ataques à liberdade de opinião e a criação dos conselhos de controle da mídia podem ter a mesma leitura.
Nunca é demais lembrar que a desmoralização das instituições públicas é uma bela forma de aplainar o caminho para o autoritarismo.
De outro lado é mais um argumento para quem vê no BC um obstáculo a ser removido e acabará fatalmente vinculado a um discurso que já existe e vincula a política monetária aos interesses dos banqueiros. Enfim, depõe contra a autonomia do banco num momento bastante complicado das políticas econômicas para o próximo governo.
Demetrio Carneiro
Fonte: Reinaldo Azevedo
Por Leonardo Souza e Mario César Carvalho, na Folha:
O Banco Central encontrou o primeiro indício concreto de desvio de dinheiro no PanAmericano. Um único cliente pessoa física recebia mais de R$ 120 milhões de rendimento por ano numa aplicação na instituição, a taxas muito superiores às de mercado. Técnicos do BC suspeitam que os juros do investimento eram inflados artificialmente para camuflar a saída dos recursos. Não se sabe ainda se o cliente está envolvido no suposto esquema. O titular da aplicação é o empresário Adalberto Salgado, de Juiz de Fora (MG). Ele mantinha R$ 400 milhões num CDB (Certificado de Depósito Bancário) do PanAmericano, que o remunerava a mais de 30% ao ano. O BC já havia identificado problemas na contabilidade, mas não tinha indícios de desvio de dinheiro.
O CDB é um instrumento usado pelos bancos para captar recursos. O investidor empresta dinheiro ao banco e recebe juros baseados no CDI -taxa cobrada nas transações entre instituições financeiras. O CDI segue a taxa básica da economia (Selic), hoje em 10,75% ao ano. Em sua aplicação, o empresário obteve 20% ao ano de retorno mais o total do CDI -cerca de 30,75%. O prazo da aplicação é de cinco anos.
(…)
A descoberta de uma aplicação tão extravagante só após a intervenção é um indício de que a fiscalização do BC cometeu falhas graves no caso do PanAmericano. Segundo dois especialistas ouvidos pela Folha, sob a condição de que seus nomes não fossem citados, a fiscalização deveria ter notado o CDB, no mínimo, pelo risco que o pagamento de juros tão altos significaria ao banco.