terça-feira, 30 de novembro de 2010

CHINA E BRASIL: IGUAIS E DIFERENTES

Apenas como registro: O relatório do Banco Central Chinês sobre o fluxo de capitais indica que o ingresso de capitais na China, no mês de outubro, foi de USD 98,06 bi, igualando-se ao recorde de janeiro de 2008, antes, portanto, dos sinais mais fortes da crise internacional.

A Índia vem mantendo um forte ritmo de crescimento cravando 8,9% no terceiro trimestre deste ano, comparado com o terceiro trimestre de 2009.

A situação tende a se repetir no Brasil, embora em outro contexto. E este é o problema.
O aprofundamento, esperado, da crise na Europa e os problemas de retomada da economia americana, adicionados os da economia japonesa, acabam indicando o que já está óbvio: Países emergentes que tenham bons fundamentos, é bom ver que nem todos têm, e boa inserção no mercado internacional acabam sendo o “porto seguro” desses capitais.
O representante do BCB, em recente conferência em Hong Kong, afirmou que o Brasil espera uma recuperação mais complicada devido às incertezas nos Estados Unidos e na Europa.

O que torna o Brasil especialmente atrativo, entre os emergentes, não é apenas a sua elevada taxa de juros reais. Muito mais que isso são os negócios possíveis seja pela forte expansão do mercado interno, seja pelas expectativas do pré-sal, seja pela Copa ou pelas Olimpíadas. Todas esses projetos,vamos chamar de projetos, dependem de capital, dependem de investimento e essa talvez seja a vulnerabilidade mais forte do atual modelo.

O que já deveria ser bem claro é que nossa capacidade de aproveitar os ciclos que nos são positivos na economia mundial está sempre limitada às questões não resolvidas de nosso processo: Capacidade de geração de poupança, limitações no crédito interno, infraestrutura e logística e todo um rol de mais de uma centena pontos “fracos”, devidamente catalogados pela CNI no documento – “Uma agenda para crescer mais e melhor” - entregue aos candidatos, que geram ineficiência e dependem antes de tudo de vontade política e visão de processo. Não basta apenas navegar, embora seja preciso.

As projeções vitoriosas de Mantega para o PIB brasileiro são medíocres perante nosso verdadeiro potencial. Mas é por conta do raciocínio medíocre de nossos gestores.
O voto não mudou este cenário. Parte significativa do povo brasileiro preferiu não correr riscos e apostar na mediocridade. Por razões que a oposição ainda tergiversa e não debate.
Gostaria de ser surpreendido, mas tudo vai indicando que não seremos.

Nossas diferenças com a China são marcantes, mas a leitura de modelo de nossas elites é muito próxima da leitura de modelo das elites chinesas. O "socialismo" chinês é o modelo de Capitalismo de Estado mais bem sucedido da história econômica internacional. O modelo que está na cabeça de nossos nacional-desenvolvimentistas, que comandam o pensamento econômico governista, mas também estão na oposição, é o mesmo Capitalismo de Estado. Não é de estranhar esta sinistra proximidade entre o pensamento econômico da ditadura civil-militar de 64 e o pensamento atual, já que as raízes são comuns. 

O debate despolitizado da economia esterilizou o pensamento e desacostumamos do debate de categorias históricas, talvez por isso seja tão difícil, para boa parte daqueles que ainda se manifestam, a crítica do modelo pelo viés de seu fim e não apenas pela conjuntura e capacidade de resposta pontual. A inexistência do debate de categorias prende o debate no momento presente e dificulta a visão de futuro que sempre é uma visão de processo e interessada.

Demetrio Carneiro