sexta-feira, 5 de novembro de 2010

“ESQUERDA” E ‘DIREITA” NA OPOSIÇÃO E NO DEBATE DO DESENVOLVIMENTO

Da matéria no Valor Econômico, 05.11.2010, “Um país em transição” e sem nenhum demérito ao autor da frase que estou usando mais como gancho de outro debate:

“Vladimir Safatle: O governo Dilma tem um conjunto de condições favoráveis, como a maioria na Câmara e no Senado. Além disso, Dilma terá um país que cresce a 7% e não tem oposição à esquerda. As possibilidades que tem de governar bem são reais.”


Esta leitura do Safatle, de que não temos oposição à esquerda é interessante:

a) Então toda oposição é “à direita”?;
b) Significa necessariamente que o governo está “à esquerda” da oposição?

É uma dicotomia falsa, que reflete o tipo de debate que o governo tentou travar na campanha eleitoral.
Nota: Falo em “governo”, pois foi o governo quem fez realmente a campanha contra a oposição e não Dilma Roussef.
Se ela foi eleita foi eleita não por mérito de Lula, o Pequeno, mas por mérito de toda a máquina de governo que se empenhou, com esmero & e$perança, na campanha.

Nossa questão é que esses conceitos de “direita” e “esquerda” não cabem mais no debate, principalmente no debate do Desenvolvimento.

Dentro deste debate o que existe é um prisma “conservador” que alista no nacional-desenvolvimentismo desde a autodenominada (nesse caso atual vale mais o conceito do IBGE de autodenominação, é mais honesto) extrema-esquerda até o conservadorismo da direita da literatura clássica dos coronéis, no melhor estilo famiglia Sarney.
Nota: Não confundir com famiglia Erenice. São outros quinhentos. Ou mais...

Na proposta de outro desenvolvimento, que é a que defendemos aqui desde sempre, as coisas começam pelo “outro”.
Não falamos em continuidade, mas em descontinuidade.
O atual modelo de desenvolvimento, visto como totalidade, está esgotado.
Vamos definir o termo esgotado não como falido, como gostariam muitos. O modelo não está falido e ainda pode rodar muitos quilômetros. Com certeza. O problema é que serão quilômetros medíocres. A mesma mediocridade dos que batem palmas para o menor PIB entre os emergentes. Como se este resultado fosse a quinta-essência planetária.
Então, esgotado porque o modelo conservador, no mundo atual, só pode operar no limite entre o medíocre e o médio.
Se quiserem anotar para cobrar depois é isso que eu acho que tenderá a ser o governo Dilma, se ela for realmente incapaz de se autonomizar ou não quiser se: Um caminho entre o medíocre e o médio.
Evidentemente haverá progresso econômico. As pessoas terão melhor qualidade de vida e o governo terá votos.
Apenas, por estar esgotado, este modelo continuará concentrador, continuará sem resolver a questão da educação, continuará sem gerar empregos que só poderão ser qualificados por um processo de gestão da educação totalmente diferente do atual, continuará sem saber se preserva ou consome/destrói seu mio ambiente, continuará sem saber alinhar consumo/produção/sustentação.
No outro modelo que chamarei de estruturante transformador (porque transforma o presente)/ estruturante (porque estrutura o futuro) também estão os autodenominados “esquerdistas” e “direitistas” envergonhados.

Demetrio Carneiro