segunda-feira, 14 de junho de 2010

O DEBATE MACROECONÔMICO ATUAL – OPÇÕES E PERSPECTIVAS

Gostaria de apresentar nessa curta nota uma perspectiva sobre o debate atual na área macroeconômica, comentando o que vejo como sendo as principais divergências entre propostas de reforma do atual “tripé” macroeconômico.

Há, basicamente, a meu ver, três posturas possíveis nesse debate:

1. Deixemos como está

Muitos argumentam que o conjunto atual de políticas tem funcionado muito bem, e que não há necessidades de mudanças no conjunto de regras/princípios sendo seguidos, independente de haver espaço para melhor gestão neste ou naquele ponto (por exemplo, uma política fiscal mais austera ou uma política monetária menos conservadora). Acredito que a posição da candidata Dilma Rousseff, em especial as posições de Antonio Palocci recaiam sobre essa postura.

2. O problema é o BC

Para parte daqueles que acreditam que o tripé atual é inadequado, o problema reside essencialmente no Banco Central. Apesar do BC não ter independência, e assim responder a orientação do Presidente da Republica, membros desse grupo, que normalmente se autodenominam como “keynesianos”, olham para o BC como sendo um agente do mercado financeiro, responsável por um regime de “rentismo” que transfere indevidamente renda do “setor produtivo”. Se somente o BC for domado (a pergunta obvia é, porque não foi nem no governo FHC ou Lula?), e aqui há um cardápio de sugestões que sempre se resumem a afrouxar a política monetária, tudo se resolveria. É natural desse ponto de vista ligar a questão dos juros com a cambial. De fato, partindo de uma postura antimercado, e piamente acreditando na habilidade de uma iluminada tecnocracia “keynesiana” em determinar os valores “correto” dos grandes preços da economia, muitas vezes temos propostas que implicam “administrar” o cambio junto com a taxa de juros. Sabendo que tal intervenção terá reação imediatamente negativa nos mercados, como fuga de capitais e mais inflação, é normal ver tais propostas serem acompanhadas de controle de capitais e maiores intervenções no setor financeiro. Pensando no total dessa lógica, vemos que ela caminha para a volta de uma economia que em muito lembra o que o Brasil tinha durante o regime militar: fechado e dirigido a partir do Estado. Isso atrai diversos grupos para essas posições, como grupos industriais querendo aumentar o nível de subsídios que já recebem (o que aconteceria em qualquer tentativa de “segurar o cambio”) e todos aqueles que, por posição ou ideologia, gostaria de ver o já enorme Estado Brasileiro controlando ainda mais a economia.

3. Ataque às causas e não às conseqüências: 

Podemos aceitar que o atual arranjo macroeconômico não é suficiente para determinar um nível adequado de juros e da taxa de cambio sem cair nas tentações estatizantes e intervencionistas dos “keynesianos”. Podemos reconhecer que muitos equilíbrios são possíveis, e que a atual relação juros/cambio é perversa, mas que para mudá-la temos que atacar os fatores estruturais que a suportam. Cambio e juros são conseqüências, e não causas, de vários fatores negativos na macroeconomia, e são esses fatores estruturais que são passiveis de mudança.

A terceira posição, politicamente, sofre de duas deficiências. Primeiro, por não eleger um inimigo, não tem o apelo moralista de uma visão de mundo que vê no binômio BC/mercado como centro de todos os males. Segundo, por eleger um conjunto de fatores estruturais e de natureza complexa como sendo a verdadeira causa do atual equilíbrio perverso que vemos na economia, a terceira posição não simplifica a tarefa da maneira da segunda posição, que implicitamente vê o problema como sendo a de falta de vontade política para “botar o mercado/juros/cambio no seu lugar”. Qualquer posição voluntarista, infelizmente, sempre tem um grande apelo na política, apesar de sua natureza antidemocrática.

O que deveria ficar claro é que concretamente a única escolha é entre a primeira posição, e deixar as coisas essencialmente como estão, e a terceira, a de atacar de forma sistemática as causas dos juros e câmbio alto. Isso porque a inconsistência teórica como a necessidade de jogar o país de volta para os anos 70 implica que qualquer tentativa de executar a segunda opção “keynesiana” vai ser rapidamente abandonada em função das imediatas reações contrarias nos mercados e, mais importante, na sociedade, que não mais a aceita. Quem realmente quiser mudar as coisas não deve cair nessa fácil tentação.

Tony Volpon