Abaixo a tradução livre de um texto que o Tony enviou para seus clientes.
Interessante como avaliação profissional de quem está de fora e olha nosso processo de uma forma menos envolvida.
Demetrio Carneiro
Brasil: quem tem medo de José Serra?
Candidato presidencial de oposição e ex-governador de São Paulo, José Serra foi citado, aparentemente fazendo declarações polêmicas sobre a política monetária e a taxa de câmbio. Isso está levando a especulações sobre como o atual quadro político no Brasil poderia mudar se ele chegasse ao poder.
Serra na última semana fez uma blitz de mídia, dando uma série entrevistas em de revistas, jornais e na televisão. Isto está em contraste gritante com a candidata do governo, Dilma Rouseff, que, embora empatada nas pesquisas com Serra já está agindo como um competidor em vantagem e evitou a mídia, tendo voado para a Europa para uma série de boas oportunidades para fotos, aparentemente.
Infelizmente, é muito difícil dizer alguma coisa específica, depois de ler tudo o que Serra tem dito recentemente sobre o quadro de política macroeconômica. Por exemplo, em uma recente entrevista à revista "IstoÉ", ele afirma que em seu governo o presidente do Banco Central seria um "subordinado" do Ministro das Finanças. No "Valor" de hoje ele relata ter elogiado o sistema no Chile, onde o ministro das finanças se senta como um membro não-votante do conselho do Banco Central, havendo uma coordenação eficaz entre a política monetária e fiscal. Mas ele também tem sido citado como apoiador da "independência operacional" para o Banco Central, que é o atual regime.
Seria muito útil para os mercados se Serra definisse claramente quais as alterações faria no regime da atual política, mas sendo o candidato da oposição, ele pode pensar que apenas ser oposição é suficiente, pelo menos por agora. Uma de suas "queixas" é, de fato, em nossa opinião, tranquilamente correta: O Brasil precisa de uma coordenação mais eficaz entre a política fiscal e monetária, o caminho que muitas vezes a puxar a economia em diferentes direções, como acontece agora onde a despesa continua a aumentar por conta da forte receita fiscal, enquanto o Banco Central aumenta as suas taxas taxas. O Chile, por exemplo, trabalha com uma muito bem sucedida "meta" orçamentária estrutural que gera uma poupança em tempos de boom econômico, e por isso é anti-cíclica. Se Serra de fato adotasse o modelo chileno fiscal, seria uma notícia muito boa para o Brasil, levando a uma menor pressão sobre a política monetária que carrega o fardo sozinha.
No entanto isso é apenas especulação. No final, o que Serra pode estar pensando está firmemente limitado pelo sucesso e apoio político que o atual regime tem no Brasil. Fora algumas vozes solitárias na esquerda acadêmica e interesses industriais que querem sempre um real mais barato, sem se importarem o quanto ele realmente tem que custar, o atual regime se beneficia de um amplo apoio e a reação a qualquer mudança radical seria grave. Devemos também ter em mente que a Serra tem um longo histórico político, tem estado muitas vezes no governo e não é conhecido por irresponsabilidades ou radicalismo.
Dito isso nós acreditamos que a razão real dos mercados não mostrarem nenhuma reação aparente para a possibilidade desse risco é a forte certeza dos agentes locais de que Serra não vai ganhar a eleição. Como ficou evidente na nossa viagem ao Brasil na semana passada, essa crença é mais forte do que a crença de que o Brasil vai ganhar a Copa do Mundo. Assim como os manipuladores da campanha de Dilma, que estão escondendo ela da imprensa como um competidor em vantagem evidente, os locais acreditam que muito em breve ela vai consolidar uma liderança nas pesquisas e, provavelmente, ganhar a eleição já no primeiro turno. Embora nós mesmos não compartilhemos essa crença, Dilma tem a candidatura mais forte, mesmo que não seja a candidata mais forte. É claro que se este cenário não ocorrer e se a campanha de Serra não sofrer um rápido colapso pós-Copa do Mundo, ele será chamado para ser muito mais claro em sua posição ou haverá o risco imediato dos mercados terem uma forma de reação negativa.
Tony Volpon