segunda-feira, 21 de junho de 2010

CÉSAR MAIA: DETERIORA A IMAGEM EXTERNA DO BRASIL!


Para não ficar muito repetitivo até tinha resolvido dar um tempo nessa questão da política externa.

Acredito na vitória de Serra, mas me preocupa o fato apontado por CM e que eu mesmo já havia comentado aqui: A posição do Senado tem sido extremamente ambígua mantendo um preocupante silêncio. Mais preocupante fica quando sabemos que a oposição não vive no Senado a mesma situação de posta contra a parede que vive na Câmara Federal. Levando em conta os planos de PT & aliados para o Senado...
Outro ponto de preocupação é o fato de não se tratar de um assunto previsto para o debate eleitoral, embora seja certamente um dos pontos mais fracos da atual gestão. Talvez seja sugestão dos marqueteiros imaginando que as relações externas não movem as massas. Apenas o bolsa-família e o guia máximo. Talvez por ser obra pessoal do guia máximo. Como imaginam que não se bate em líder, então não se discute política externa.

Em todos os sentidos é um erro não abordar a política externa. O que está rolando é muito mais que a vontade do guia máximo, mas um formato de ver o mundo como um sistema de oposições clássico entre desenvolvidos e emergentes que defendem a si próprios e a amplíssima maioria que é o restante do mundo não-desenvolvido. Esquecendo o debate sobre se a questão é ser “desenvolvido” ou “emergente de onde para onde” ou se o mundo atual comporta esta leitura, o fato é que o Brasil, enquanto nação e não apenas seu presidente, vai tentando estar à frente de um movimento que é uma ação política e um balaio de gatos. Balaio de gatos da pior espécie possível.
Isto não tem nada a haver com governança mundial, mas com um sistema de apoiamento mútuo de regimes autoritários, nominalmente “populares”, num falso diálogo sul-sul contra o norte.

Mais um aspecto esquizofrênico da política oficial brasileira: Nossa política externa se preocupa diariamente em destruir as bases de uma interação global, uma governança global de convergências, sustentando todo um trabalho de oposições e identificação de inimigos. 
Na outra ponta o desenvolvimento brasileiro só é viável com um pesado ingresso de capitais que vem exatamente do norte do planeta. 
Na medida em que o Brasil, por exemplo, ajuda ativamente o Irã a construir a sua bombinha alguma coisa não vai dar certo. 
Acreditem.

Demetrio Carneiro

DETERIORA A IMAGEM EXTERNA DO BRASIL!

Trecho da coluna de Cesar Maia, na Folha de SP (19).

1. Cuba e Venezuela usam a política externa como instrumento de propaganda para multiplicar a percepção da importância de seus países. Ela é marcada por slogans e frases de efeito contra o imperialismo e coisas que tais. Essa diplomacia de slogans foi também adotada pelo Brasil: etanol, camisas da seleção, acordos políticos e comerciais inócuos, o caso Honduras, onde a embaixada brasileira foi usada como picadeiro diplomático. Agora foi a vez do Irã, que terminou languidamente num velório de terceira na ONU.

2. A diplomacia brasileira construiu, por décadas, o respeito internacional, pela capacidade de nossos diplomatas nas instituições, nos tratados e nos acordos internacionais. É verdade que um ou outro empresário brasileiro se encanta com a "venezuelização" da política comercial externa, na medida em que consegue contratos com financiamento brasileiro e sem licitação. Se somarmos as linhas de crédito anunciadas pelo presidente no exterior, ultrapassamos os US$ 15 bilhões. Na prática, pequena fração disso foi efetivada e só para a alegria desses contemplados.

3. O Brasil anuncia o perdão de dívidas de países pobres para exaltar a sua própria importância. Mas, quando um país o confronta, como a Bolívia ou o Paraguai, o presidente recua e fica feliz com os destaques na imprensa desses países. Reclama do FMI e, para parecer grande, transfere reservas suas no mesmo FMI. Na crise grega atual, anunciou que participava da ajuda Na verdade, eram US$ 250 milhões, ou 0,003333% da ajuda internacional. No Haiti, seu imobilismo expôs o Exército Brasileiro ao constrangimento de ter que abrir alas para a passagem de militares dos Estados Unidos.

4. A Unasul virou outro picadeiro para o exibicionismo bolivariano coonestado pelo Brasil. O Mercosul foi demolido. Obama impulsionou a sua vaidade ao apontá-lo como "o cara", antes do G-20, amaciando a sua participação. Chefes de governo têm que ouvir, com um sorriso amarelo, as metáforas e gracinhas futebolísticas presidenciais. De tudo isso, o que se vê de resultados é o Brasil ter virado uma economia primário-exportadora, para o estremecimento, em seus túmulos, de Raul Prebish e Celso Furtado.

5. E o Senado -responsável constitucional pela aprovação de tratados internacionais- a tudo assiste, passivamente, vendo suas competências invadidas. Esse é o melancólico caminho dessa nova diplomacia histriônica, que deixa a tradição do Itamaraty num quadro de constrangimento. Espera-se que os candidatos presidenciais explicitem que política externa pretendem adotar, para não surpreender os eleitores depois.