Abaixo alguns trechos que tirei de uma interessantíssima matéria publicada pela Revista Piauí, com o título “Dentro das pesquisas”.
É longa, mas quem estiver minimamente interessado nas eleições de 2010 deve ler. Não tem revelações sensacionais ou pitorescas, mas o conjunto das informações dá sustenção para uma avaliação mais cuidadosa sobre o que será o processo eleitoral.
Demetrio Carneiro
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Marcos Coimbra foi procurado, em 1988, por um amigo de infância que se elegera governador de Alagoas. Fernando Collor queria saber se teria alguma chance se fosse candidato a presidente no ano seguinte. O sociólogo fez um questionário com 100 temas e perguntas e o aplicou em grupos. Descobriu que boa parte do eleitorado gostaria de ter um presidente que mostrasse indignação com a corrupção. Que não fizesse parte da carcomida Nova República do presidente José Sarney e do deputado Ulysses Guimarães. Que não integrasse a máquina política dos grandes partidos. E, de preferência, que fosse jovem e reformista. Sim, Collor teria chance de ser eleito presidente, concluiu Coimbra.
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"A eleição de Celso Pitta serve como ilustração de uma situação excepcional, e não da regra", Marcos Coimbra me disse. O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, listou outros ingredientes para explicar a excepcionalidade das eleições municipais de 1996 e seus candidatos nascidos de qualitativas: "Naquele ano, a reeleição era proibida. A população de São Paulo avaliava bem a prefeitura de Maluf e queria que ele continuasse no cargo por mais quatro anos. O mesmo acontecia no Rio com Cesar Maia. Por isso eles tiveram força para eleger dois não políticos, Pitta e Luiz Paulo Conde."
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Para o historiador Boris Fausto, o problema não está em se criar uma imagem agradável do candidato para seduzir o eleitor. Na sua avaliação, esse caminho é irreversível, pois se trata de um fenômeno mundial. "O candidato, principalmente na televisão, precisa ter mais cuidado com os gestos, com o discurso, com o tom com que se refere ao eleitor", disse. O que empobrece a democracia, afirmou, é a falta do debate político. "Escorregamos para o discurso vazio", continuou. "O que querem os partidos? Quais são as diferenças entre eles? Qual a forma de enfrentar os problemas? Isso precisaria ficar explicitado. O eleitor precisa saber em quem está votando."
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Mas se os candidatos são moldados pelas pesquisas, e as inserções os mostram como produtos comerciais, como o eleitor saberá o que é real no discurso deles? O filósofo José Arthur Giannotti acredita que a democracia acaba por desmontar o artificialismo. "Os próprios candidatos tratam de desmascarar uns aos outros", comentou. Giannotti, que tem posições políticas próximas ao psdb, espera que, no desmascaramento e confronto da campanha, as ideias dos candidatos venham para o primeiro plano: "Serra, Dilma e quem mais concorrer têm que deixar claro para o eleitor como pensam o Brasil. Precisam expor sua ideologia e os métodos de ação. O eleitor tem que saber como cada um pretende entregar o que prometeu. E se decidir pelo caminho que considera mais factível", afirma.
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No segundo turno, Santana usou um recurso que tinha preparado para o primeiro, caso a disputa estivesse acirrada: a privatização. Na sua interpretação, havia dois "eixos" no imaginário dos eleitores quanto à privatização. Um era o que batizou - numa entrevista logo depois da eleição a Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo - de "eixo cívico-épico-estatizante", que vem de Getúlio Vargas, com a campanha O Petróleo é Nosso. O outro eixo seria o das "tramas obscuras" - havia a desconfiança de que as privatizações feitas por Fernando Henrique Cardoso tinham envolvido negociatas.
As peças publicitárias de Lula no segundo turno captaram em cheio esse imaginário: Alckmin era um privatista convicto e o povo brasileiro perderia a Petrobras se ele fosse eleito. O tucano se cobriu de logotipos de estatais, mas não adiantou.
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O carioca Alberto Carlos Almeida é um jovem analista de pesquisas. Radicado em São Paulo, é autor de A Cabeça do Brasileiro e A Cabeça do Eleitor. Ele afirma que a economia é hoje a maior preocupação do eleitorado. "Ele pode até dizer que está preocupado com saúde e educação, mas, na hora de votar, vai escolher o candidato que lhe garanta uma melhoria no padrão de vida", assegura. Serra, nessa análise, teria dificuldade em apresentar propostas para a área econômica que superassem os ganhos das classes D e E no governo Lula. "A única saída para Serra talvez seja dizer que fará melhor do que o que está aí, sem jamais criticar os programas do atual governo", disse.
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