O Tony passou um e-mail questionando o fato de que há um silêncio generalizado sobre a atuação do Tesouro comprando dólares para segurar o câmbio, quer dizer, para impedir uma maior apreciação do real.
Em realidade há uma diferença quando o Tesouro cria uma dívida para comprar dólares que o Tony estima hoje em 10% ao ano.
O problema é que eles acham sim que tem que controlar o câmbio de alguma forma, mesmo com aumento da dívida pública.
Na realidade é uma forma de “proteção” à indústria e responde às demandas da FIESP/CNI. Nesta altura do campeonato situação e oposição estão “sensíveis”.
Como aqui no Brasil o debate da dívida é especializado e não feito publicamente, quando o Tesouro vende títulos públicos na realidade “joga para baixo do tapete”.
Outro detalhe é que eles medem em termos de PIB. Outro dia escutei o argumento de um técnico do governo explicando que a atual formação de dívida não é fundamental porque não influenciará o percentual DP/PIB, já que o PIB esperado é alto. Quer dizer o que aparece na mídia é a despesa relativa e não a absoluta.
Enfim, comprar dólares serve para todos os gostos.
É como a questão dos juros. Politicamente é mais simples atacar o aparente e não o estrutural.
É mais simples dizer que os juros estão altos do que criticar a estrutura e o processo que levam a isso. Da mesma forma é mais complexo buscar as ações estruturantes para mudar o quadro.
Com a questão do câmbio, desde que se resolva o “hoje”, o “amanhã” é problema do “outro”, quer dizer dos que virão.
O processo de jogar debaixo do tapete os custos das políticas atuais, desde a taxa de juros até Belomonte, é mais ou menos como o cara que joga o lixo num terreno público. Depois que ele jogou o lixo o problema não é mais dele, mas dos outros.
É alguma coisa como a socialização da incompetência.
Demetrio Carneiro