A crônica da Cantanhêde, abaixo, é emblemática. Faltou acrescentar que um dos personagens por trás do estímulo a greve de 2001 era justamente o atual governador, agora vítima de seu próprio veneno.
Quanto à hipocrisia evidente tanto na questão da greve quanto na questão das privatizações ela é natural de qualquer governo. Todo governo sempre debita ao "outro" as coisas erradas ou supostamente erradas. Caberia ao eleitor definir até onde é capaz de carregar as falsas acusações etc. No fim do dia é o de sempre: Cidadania envolve uma visão crítica de qualquer governo. Sem esta visão crítica os governos navegam como tão bem sabem navegar.
O governo de Dilma, sem todo o carisma de Lula, vem se mostrando um desastre que nem mesmo os apoiadores do petismo conseguem mais disfarçar. Quando se trata de conversas privadas. Isso apenas demonstra que Dilma foi posta lá apenas para viabilizar um interregno, já que o terceiro mandato não era viável. Agora que Lula 2014 não parece mais uma possibilidade real as variáveis mudaram e a equação é bem outra e as peças do xadrez eleitoral vão assumindo outras posições. O petismo, com base em sua cultura esquerdista ainda do socialismo real, criou uma mecânica de endeusamento da figura de Lula como o guia genial das massas. Agora é ver como tudo isso irá se sustentar no futuro.
Demetrio Carneiro
Quem te viu, quem te vê :: Eliane Cantanhêde
Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) partiu para o confronto com policiais em greve, chamou o Exército e bateu o pé mesmo diante dos cadáveres que se amontoam por falta de segurança.
Em Brasília, o governo federal comemora alegremente o sucesso dos leilões de privatização dos aeroportos da própria capital, de Guarulhos e de Campinas, com resultado de R$ 24,5 bilhões, bem acima das expectativas.
Indaga-se: por que o PT condenou tão acidamente a repressão do governo do PFL-DEM a um movimento semelhante na Bahia em 2001? E por que não só criticou ferrenhamente as privatizações do governo FHC como as usou contra os adversários nas campanhas de 2002, 2006 e 2010?
Ou as greves dos policiais na era DEM eram legítimas e na era PT passaram a ser ilegítimas, ou o PT tem um discurso na oposição e uma prática na situação. Ou... o PT mudou.
Ou as privatizações eram ruins e agora são boas para o país, ou o PT de Lula e agora de Dilma aderiu ao vale-tudo eleitoral e mentiu, ironizou e foi sarcástico contra uma política que não apenas aprovava como agora aplica, feliz da vida.
Durante três campanhas seguidas, o partido recorreu ao mesmo discurso, atribuindo aos adversários tucanos a intenção até de privatizar o BB, a CEF, a Petrobras e a mãe de todos os eleitores. Era o PT antiprivatização versus o PSDB privatizante, o PT patriótico versus o PSDB impatriótico.
E agora, qual o discurso? Dilma e Lula deveriam pedir desculpas: ou mentiram aos eleitores ou estavam errados e agora reconhecem que greve de policiais era e é inadmissível e que a política de privatizações do governo adversário era e é correta. Suspeita-se que não vão fazer nem uma coisa nem outra. Vão deixar pra lá, como se nada tivesse acontecido.
Moral da história: greve no governo dos outros é bom, mas no nosso não pode; privatização no governo dos outros é impatriótica, mas no nosso é um sucesso do patriotismo.