sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CENÁRIOS MUNDIAIS PARA A EMISSÃO DE CO2 EM 2100: A TEORIA DO CALDO DE CANJA

Como se diz popularmente prudência e caldo de canja não fazem mal a ninguém. Mas nem sempre as pessoas gostam de carne de frango e muitas não estão dispostas a serem prudentes principalmente quando o problema será das gerações futuras e não da nossa geração. É meio como disse Keynes num belíssimo exemplo de racionalidade e irresponsabilidade intergeracional: No longo prazo estaremos todos mortos...então para que se preocupar com o longo prazo.

Há enormes problemas em lidar com poluição e danos ambientais. Não se trata apenas de ser muito difícil, em muitos casos, definir a origem nos termos de responsabilizar indivíduos ou instituições. Também é difícil precificar, dar um custo, aos danos gerados. Para piorar alguns gêneros de poluição são cumulativas ou seja, são de fluxo mais intenso do que a capacidade de absorção do meio ambiente e ainda existem em escala planetária, como o cado da produção de CO2 e do consequente efeito de aquecimento global. 

A escala planetária do aquecimento global carrega outra dificuldade acessória que é o Estado-Nação, as necessidades de sobrevivência política das coalizões dominantes internas e as reações das populações locais. A tendência dos agentes políticos locais é sempre "jogar para a platéia local" e não para a platéia planetária, atitude que está fortemente vinculada aos instintos de sobrevivência política. A postura irracional dos governos dos países emergentes, principalmente, com relação à decisão da Comunidade Européia de taxar as emissões de CO2 das aeronaves que pousam ou decolam de seu território mostra isso de forma muito clara. A reação, nenhuma, das populações locais com relação a atitude de seus governos e mesmo a cortina de silêncio e o desinteresse das mídias completam o quadro.

De fato o aquecimento global envolve também um forte debate sobre as suas consequências e amplitude, também. O que se chama de ciência do clima ainda não nos dá um quadro pacífico, no sentido de convergente, nos termos de predição. Há mesmo cientistas que acreditam num efeito colateral positivo do aquecimento frente ao início de um novo processo de resfriamento global. Explica-se: Existe já consolidada academicamente a noção de que o planeta tem um ciclo de aquecimento-resfriamento próprio. De tempos em tempos, aproximadamente 10 mil anos acontece uma glaciação, chamada de era do gelo, com a queda das temperaturas médias. Diversos cálculos realmente indicam que talvez estejamos numa época de transição rumo à glaciação. De fato a última de seu a cerca de 10 mil anos atrás. Para alguns desses cientistas que apostam na glaciação próxima o aquecimento global gerado pela emissão de CO2 seria um fato positivo, pois acabaria equilibrando a temperatura e deixando-a mais amena. Realmente uma forte queda de temperatura nas áreas mais quentes  e populacionalmente mais densas do planeta poderia ter consequência inimagináveis em termos de manutenção da vida e da produção agrícola. O problema com essa lógica é que os dados de aquecimento global, no pior cenário apontam para consequência muito gravas para a manutenção da vida já em 2100, quando há um margem de 1 mil anos nos cálculos de glaciação. Ou seja, também pode acontecer que fritemos, antes de congelar.
Outra leitura está na aplicação de novas tecnologias que removem de alguma forma o dióxido de carbono da atmosfera. O site ambiental da Universidade de Yale, Yale environment 360, relata estudos que tratam da possibilidade de um uso "bom" para as emissões de CO2. Outra pesquisa tenta desenvolver processo artificiais de foto-síntese. São tecnologias promissoras, mas todas numa fase inicial de pesquisa sem que se saiba ao certo de sua efetividade e capacidade para absorver o excedente de CO2 presente na atmosfera e responsável pelo aquecimento global.

Neste momento de nossa trajetória nos termos de processo civilizatório a melhor indicação seria uma atitude prudencial, uma vez que alguns dos danos do aquecimento podem ser irreversíveis, quaisquer que venham a ser as tecnologias futuras.

Muito bem, tem uma lógica prudencial buscar estabelecer horizontes para emissões e a partir desses horizontes avaliar as consequências de diferentes níveis de emissão. é precisamente o que fez de uma forma bastante criativa o site Energy Realities. Vale à pena dar uma conferida. Há um gráfico dinâmico com três horizontes para 2100: Uma que é resultado da negociação. Um médio. E um pessimista. A divulgação nos chegou por meio do Aldeia Comum

Demetrio Carneiro