Abaixo a tradução livre de um texto publicado no site CASSE-Center for the Advancement of the Steady State Economy. A CASSE reúne um grupo de pensadores de defendem a proposta original de Herman Daly sobre a necessidade de que as economia avançadas adotem um modelo que ele chama de “estacinário”(steady). Basicamente a hipótese é que o planeta não comportaria o crescimento contínuo tanto do ponto de vista do comprometimento dos recursos renováveis ou não, quanto com relação aos danos ambientais gerados pela poluição e deposição de resíduos e emanações. O autor, Brian Czech, é fundador e presidente do CASSE.
Linha de crítica de Czech não é tanto a diferença entre o discurso pré-eleitoral de Obama, antes da primeira eleição e o atual discurso pré-eleitoral às vésperas da disputa pela reeleição. Czech está disposta a admitir que politicamente pode ser muito difícil para Obama, em meio à crise da economia, assumir que o crescimento econômico não é a melhor solução para os americanos e para o resto do mundo. O que Czech é condenável é o fato de Obama não querer assumir que há uma forte contradição entre o crescimento econômico e a preservação do meio ambiente. Muito pelo contrário o presidente declara enfaticamente que não há e na realidade assume o crescimento como uma possibilidade para todo o sempre dando a noção de que pode ser um processo infinito. Como afirma o autor é uma questão de assumir a verdade por completo. O debate sobre o oleoduto Keystone X-L mostrou como a questão de se assumir enquanto governo uma postura de proteção ambiental pode ser complexa.
A crítica proposta por Czech para Obama valeria perfeitamente para Dilma que fala o mesmo discurso de não ver qualquer contradição entre crescimento econômico e proteção ambiental. Assim como lá, nos EUA, seria muito saudável que Dilma também assumisse a realidade dos fatos e fizesse um discurso honesto. Evidentemente não se trata de defender aqui e agora que a economia brasileira passe para um estado estacionário, mas certamente deveríamos todos não ter nenhum dúvida de que inclusive para nós o crescimento não é para todo o sempre. Deveríamos ser mais capazes de usufruir de forma mais eficiente nossas oportunidades. Todos ganharíamos.
Demetrio Carneiro
por Brian Czech
13.02.2012
Esta semana fará um ano que escrevi dizendo que Obama finalmente havia conseguido. Ele havia tomado o rumo de uma ladeira muito escorregadia. Num Editorial de Opinião, publicado recentemente no Wall Street Journal ele prometeu: “As agências federais irão garantir que a regulação protegerá nossa segurança, saúde e meio ambiente ao mesmo passo que promoverão o crescimento econômico”. Em outras palavras teremos a saborosa torta ambiental, mas nós a comeremos devido ao crescimento econômico.
Por algum tempo após esse editorial Obama não fez muito para levar à frente a retórica dos ganhos mútuos e aqueles entre nós que preferem a verdade, a verdade nua e crua e nada mais que la tivera, alguma esperança. O crescimento econômico é um tópico sério, mas a proteção ambiental também é. Gostaríamos que Obama fosse direto e dissesse algo assim: “Há uma escolha fundamental entre crescimento econômico e proteção ambiental”.
Provavelmente a verdadeira questão entre crescimento e proteção não nos permite uma escolha fácil. Mas como qualquer escolha pode ser feita com base numa mentira?
Parece muito razoável Obama afirmar como fez no mês passado em uma palestra para os funcionários da EPA: “Salvaguardando nosso meio ambiente fortalecemos a economia”. Não há dúvidas de que protegendo o meio ambiente fortalecemos a economia. Mas as extas palavras de Obama são flexíveis em sua interpretação, pois fortalecimento está normalmente conectado ao crescimento. E isto não é possível com verdadeiras salvaguardas. Crescimento econômico – incremento de produção e consumo de bens e serviços, vistos como agregado – tem e tem muito impacto ambiental. Isso é Economia Ecológica básica, elementar.
Obama vai pela ladeira escorregadia abaixo: Eu não compro a noção de que nós temos que fazer uma escolha entre o ar e a água limpos e um crescimento robusto. Eu penso que este é um falso debate”. Mas eu, Brian, é que não compro a noção de Obama de que esta a a verdade óbvia. Seguramente Obama sabe que nossos céus, rios e mares recebem diretamente os resultados da produção e do consumo. Mas como todos os políticos ele também sabe que o eleitor médio não detecta ao longo de um único ciclo eleitoral a opacidade dos céus ou a água mais turva. Então ele se coloca num terreno muito escorregadio e busca evitar a atenção sobre essa verdade muito inconveniente.
Contudo eventualmente algum foco de luz é jogado sobre a ladeira escorregadia, como no caso do artigo de Julliet Eilpen*:”A administração Obama retarda as regras ambientais a depender do peso e custo políticos”. Normas destinadas a reduzir a emissão dos veículos estão em compasso de espera, assim como normas para conter a fuligem e muitas outras semelhantes, pois interferem no crescimento da economia. Em outras palavras a administração sabe que salvaguardas ambientais produzidas de boa fé não podem ser conciliadas com crescimento. Eles devem, também, suspeitar que o custo político de priorizar a proteção ambiental em detrimento do crescimento, neste momento da história, pode representar um custo muito maior do que estão dispostos a pagar.
Provavelmente não seria tão ruim que houvesse esta priorização do crescimento econômico sobre a proteção ambiental. num mundo de espécies ameaçadas de extinção, derramamentos de petróleo e mudanças climáticas, com um presidente que tem como base o velho Abe Lincoln, se ele pelo menos fosse direto sobre o assunto. Por qual razão Obama não pode via à público dizer:” Eu acho que o problema mais importnto para os americanos é o emprego. Por isto farei tudo que puder para garantir o crescimento econômico, a continuarei a fazer isso mesmo que afete o meio ambiente. Então, enquanto fazemos a economia crescer hoje, podemos dar alguma atenção à questão sobre como poderemos fazer a nossa transição para uma economia estável ou economia estacionária amanhã. Esta é a nossa visão de futuro e quanto mais cedo pudermos explorá-la mais preparados estaremos”. Ou algo como isso. Minimamente iremos respeitá-lo por dizer a verdade.
Falar assim irá impedir a sua reeleição? Quem sabe? Por acaso eles sabem?
Contud o ônus por falar a verdade não pode ser apenas de Obama. Francamente penso que podemos estar mais desapontados ainda com algumas organizações ambientalistas e Agências, que poluem a internet e as ondas de rádio e TV com um “já ganhou”. Elas é que podem suportar Obama de forma que ele possa dizer estas coisas sem se preocupar com as conseqüências políticas. Tal como está é complicado para Obama, talvez por temer o papel de herói solitário num deserto de preguiça mental.