Ainda tem muita gente imaginando que a questão do aquecimento global é pura frescura de quem não tem mais o que fazer ou que há prioridades mais importantes como a questão social.
O Climate Progress, considerado pelo Times um dos mais influentes e importantes blogs na questão das mudanças climáticas vem com um extenso post, fartamente referenciado, sobre os efeitos da mudança climática no volume de gelo no oceano Ártico.
Sob o título geral “Volume de gelo do oceano Ártico: A espiral da morte continua” o post não poupa argumentos no sentido de alertar considerando que já era para se ter feito alguma coisa, mas que é melhor fazer algo já do que deixar para fazer quando for irreversível.
Infelizmente entre nós a questão da crise ou debate sobre as suas consequência nacionalmente falando ou o debate sobre a ação sobre as consequências ou o atual debate sobre essa soma de políticas anti-cíclicas e eleições etc. tem esvaziado fortemente o debate sobre a agenda ambiental e sua relação com o desenvolvimento que poderemos ter. não estou mais me referindo ao desenvolvimento que queremos ter. Nosso estilo nacional-desenvolvimentista focado em crescer a qualquer custo relega ao segundo plano toda a questão ambiental, inclusive aquelas que falam mais fortemente ao nosso futuro como espécie. Incrivelmente esses racionalistas não conseguem racionalizar não apenas a necessidade de evitar mudanças climáticas com mais velocidade, mas a própria importância de prioridade deste debate.
Com o pensamento nacional-desenvolvimentista incutido à esquerda e à direita, na situação e na oposição, há uma fortíssima barreira de caráter ideológico despriorizando a questão ambiental. Questões mais imediatas referentes ao meio ambiente como o debate do Código Florestal entram na agenda por conta não de serem ambientais, que aparecem lateralmente “de carona”, mas por envolverem poderosos interesses corporativos ou dos movimentos sociais, aparelhados ou não, ligados à ocupação social do solo ou ao resgate de populações rurais marginalizadas, ou por parte dos produtores rurais, notadamente os ligados ao fortíssimo e consistente setor de agronegócios brasileiro. Nas eleições de 2010 questões como o aborto, envolvendo o voto fundamentalista, desfocaram completamente o que era o ponto mais fraco da agenda, implícita, governista.
Discutir mudanças climáticas envolve um outro modelo de desenvolvimento, pois envolve mudanças de paradigmas que interferem diretamente no próprio conceito de industrialização e de desenvolvimento como “industrializar” quando entre nós a grande missão auto-definida pelo nacional-desenvolvimentismo é a industrialização vista como única forma de “progresso”. Enfim, esse conceito de progresso e mesmo essa máxima do progresso a qualquer custo são um pano de fundo, mas oculto por inúmeras camadas constituídas por outros debates como, por exemplo, o das escolhas entre inflação e crescimento da renda ou inflação e crescimento do emprego.
Temos ai um dilema inter-temporal entre trocar um presente “confortável” por um futuro incerto pois muda todas as bases por sobre as quais o pensamento econômico, e dominante, sobre o desenvolvimento foi construído.
Demetrio Carneiro