No post anterior o Roberto Padovani, chama atenção para os fatores limitadores do nosso crescimento futuro. De certo modo essas questões ficam ocultas pelo debate atual sobre a inflação, pois de certa forma se trata agora é de crescer menos para realinhar a economia com expectativas de inflação mais reduzidas. É uma busca de retorno ao centro da meta, numa linguagem bancocentralês, e para isso se dar, contra a visão dominante no governo, não tem outra forma senão reduzir a atividade econômica.
Enfim, com o debate da inflação o debate do crescimento futuro acabou relegado a um plano secundário, mas está ai e as condições limitadoras também estão ai e já está muito clara a necessidade de um Plano Estratégico e também está muito claro que o PAC anda muito longe de ser esse plano, por mais que o governo tente emplacar essa visão.
Em outro post o Anivaldo Miranda fala em mudanças de paradigma. Esse é um tema, por exemplo, que o PAC como peça de visão estratégica aborda pelo lado inverso, já que o que se inscreve na sua visão estratégica é o "crescimento-a-qualquer custo", o tal crescimento no estilo Belo Monte ou Jiráu, capaz de produzir trabalho semi-escravo e de neutralizar com muita eficiência as funções e obrigações fiscalizatórias do Estado brasileiro.
Nessa questão infraestrutural o Edson Mineiro, do Banco América do Sul, já tem algum tempo, reportou num seminário realizado, em São Paulo, pela consultoria Tendências, a fala de Paulo Fleury, que é especialista respeitado na área de logística. Alguns números relatados são de fato impressionantes:
Para termos um sistema rodoviário semelhante ao norte-americano necessitaríamos de um investimento de R$ 9,6 trilhões. Como está no texto original do informe dá a noção do abismo infraestrutural existente.
Na área de portos os investimentos necessários somam R$ 42,9 bi, quando o PAC prevê R$ 3,3 bi.
Em ferrovias são necessários R$ 130.8 bi e o PAC aloca R$ 54,4 bi, sendo que a maior parte na festa do Trem-Bala.
Realmente há um complexo problema e há uma leitura governamental completamente equivocada quanto ao que deva ser investimento em infraestrutura e há sim ai um fortíssimo limitante estrutural para efeito de crescimento nacional.
Quem se habilita a um debate sério sobre o assunto?
Demetrio Carneiro