terça-feira, 10 de maio de 2011

Como o Alarme de Chuvas Aumentará o Numero de Mortos em Deslizamentos

Muitos elogiaram o sistema de alarmes instalado nas encostas do Rio de Janeiro. O sistema funcionou de maneira apropria e aqueles que vivem em áreas de risco puderam deixar suas casas em segurança para buscar abrigo em outro lugar, teoricamente fora da área de risco.
Até aqui, uma maravilha! Alguns fazem pequenos reparos, algo do tipo “-o sistema teria que ofertar um lugar para onde as pessoas possam ir durante a chuva”.
Bem... aí vem a malvada teoria econômica neoliberal imperialista e seu instrumental matemático-analítico reducionista e nos diz: quando o custo de algo cai, as pessoas fazem mais.
O belo e bem intencionado sistema pode ter um desfecho trágico caso a forma como os políticos cariocas lidam com a ocupação dessas áreas não mude radicalmente.
Ao proteger a população das áreas de risco com o sistema de alerta, o governo reduz os custos associados à ocupação irregular dessas áreas. Ou seja, pessoas que antes não invadiam essas regiões por medo dos deslizamentos poderão, agora, sentirem-se seguras para nelas construir suas casas. Caso o governo não complemente o sistema com ações mais fortes de inibição da ocupação, o número de pessoas que habitam áreas de risco deverá aumentar.
Uma razão pela qual famílias ocupam essas regiões é o fato delas não desabarem todos os anos. Na verdade, numa dada localidade, raramente as casas vêm abaixo. Pessoas vivem cinco, seis, dez anos nessas regiões sem que suas casas caiam. Até que um dia... bum!
Essa é uma dinâmica ruim para a credibilidade do sistema de alerta. Na maior parte dos casos, as sirenes irão soar, as famílias sairão de suas casas no começo das chuvas e ao retornarem, no fim da tempestade, suas casas estarão lá, intactas.
Em um belo dia, assim como ocorreu em Pedrinho e o Lobo, a sirene tocará e as pessoas concluirão que ela toca por qualquer razão. O custoso deslocamento durante o início da chuva pesará e as famílias continuarão em suas casas durante a tempestade.
Com mais pessoas nas áreas de risco, mais casas serão destruídas pelos deslizamentos que acontecerem e mais pessoas morrerão. Após uma ou duas chuvas, algum especialista dirá: “-o problema é que não respeitam o sistema de sirenes e, mesmo com a conscientização que esse sistema traz, continuam, pela pressão da especulação imobiliária, o Novo Código Florestal rural-imperialista e as limitações nas possibilidades de emprego, fruto do modo de produção capitalista, ocupando cada vez mais as áreas de risco”.
A teoria econômica já nos conta qual será o resultado final, cabe agora ao governo agir de verdade para que o resultado seja diferente. Caso isso não aconteça, sempre haverá um intelectual de “buteco” para desculpar o estado e culpar o capitalismo. Enquanto isso, é para a conta desse estudioso que os mortos deveriam ir. Afinal, somo responsável por nossas palavras.