quinta-feira, 5 de maio de 2011

INFLAÇÃO IRRITANTE

Não duvido nada que essa coisa da inflação persistente deve irritar o governo. Analistas vão, de forma crescente, alertando para a persistência do ritmo. Na outra ponta a turma nacional-desenvolvimentista vocalizada pelo presidente do IPTEA alerta para a indecente pressão dos banqueiros por mais Selic. Ai o Tombini fala que não hesita em lançar mão dos instrumentos que tem em mão. O Mantega cita o mantra “habemos medidas prudenciais na manga”. A Dilma vai ficar rouca achando que a fala presidencial tem qualquer importância frente a um governo atordoado. É um quadro complicado.

Lentamente o osso vai ficando mais duro de roer e ainda mais lentamente as contradições vão se instalando na base de governo. Tem um pesadíssimo trade off nessa coisa do combate a inflação já que boa parte dessa turma foi condicionada historicamente a acreditar que as políticas econômicas de estabilização são contra as políticas sociais.

Parece que eles mesmos não lêem o que se escreve no governo. O que o trabalho coordenado pelo Marcelo Neri (bom lembrar que ele é do Conselho Nacional de Desenvolvimento Social que é o lugar do pensamento estratégico do Estado brasileiro) mostra é justamente que não há qualquer problema de competição entre estabilidade e ganhos sociais. Querendo mostrar o bom desenvolvimento dessa questão sob a gestão Lula o que se mostra é que a gestão Lula preservando em boa parte a lógica da Estabilidade conseguiu produzir o período mais intenso de atendimento às demandas de equidade.

Bom que se diga isso hoje, justamente o dia de aniversário da promulgação da LRF que o PT renegou e votou contra.

É bom que se diga que quando não se preservou a lógica da Estabilidade, como no momento de garantir a eleição de Dilma, o resultado foi a intensificação da inflação vivida agora. De certa forma é a beneficiária pagando a conta do benefício e o custo pode ser a perda de aprovação, o que para um governo totalmente midiático como o atual é crítico.

É bom que se diga que os maiores perdedores com a intensificação da inflação são os mais pobres, cujo perfil de renda e consumo os orienta para consumir os bens mais básicos, justamente os que mais aumentam no regime de inflação mais forte. Não esquecer que os preços públicos são sempre corrigidos ACIMA da inflação com ganhos reais para o Estado pela via da tributação. O que há de "justiça social" nesse tipo de proposta?
Os burocratas bem pagos das corporações sindicais ou da estrutura de governo ou das estruturas dos partidos da base de governo certamente não se dão conta desse pequeno detalhe que destrói tudo o que eles garantem que querem construir.

Demetrio Carneiro