A se acreditar na mídia Mantega teria antecipado suas férias para discutir com Dilma novas medidas fiscais para baixar ainda mais a taxa Selic. Evidentemente antes da reunião do Copom.
Baixar a taxa Selic nesse momento é politicamente oportuno e uma política bom-bril, com mil e uma utilidades. Primeiro desvia o foco do desgastante debate sobre a demissão ou não de Bezerra. Afinal o ministro é da cota do PSB, aliado que não parece estar no conceito das gordurinhas que podem ser cortadas na base de apoio. Desvia o foco da prometida reforma ministerial. Implementa uma forte medida de estímulo frente a um cenário muito diferente do cantado em prosa e verso pelo governo: Números de PIB bem mais baixos em 2011 e 2012, retração do fluxo de investimentos estrangeiros.
Num artigo no Financial Times, repercutido pelo Valor, o articulista Martin Wolf coloca os emergentes como uma espécie de esperança da economia mundial, frente a nítida dificuldade de retomada das economias do Centro. É um ponto de vista não apenas dele, mas também do governo brasileiro. O problema aqui é que a economia globalizada depende do fluxo de comércio entre a Semi-Periferia e o Centro do Sistema. Há diferentes lógicas em cada um dos grupos. As economias do Centro dependem fortemente de seus mercados internos, importam meio ambiente da semi-periferia e bens de baixa e média tecnologia e exportam não apenas bens de alta tecnologia, mas fundamentalmente conhecimento no formato de propriedade intelectual. As economias da Semi-Periferia, as chamadas eufemisticamente de emergentes (emergindo de onde para onde?), têm seus mercados internos em fase de formação, sem que sejam sólidos o suficiente para sustentá-las sem os fluxos de exportação de meio ambiente ou/e bens para o Centro. Estão bem longe de ter estruturas amplamente competitivas de produção de conhecimento, embora a China especificamente esteja se tornando competitiva em áreas bem pontuais. No sentido inverso ainda são dependentes do fluxo de conhecimento em forma de propriedade intelectual. Vistas as coisas assim, talvez não seja tão simples quanto parece.
Nesse contexto a redução da taxa Selic mira diretamente o mercado interno. De fato a única aposta viável. Há apenas alguns pequenos problemas: Instituições consolidadas e confiabilidade. É inegável que a manipulação da taxa Selic tem sua importância como mecanismo de estímulo econômico. Mas não há com certeza uma relação mecânica entre a redução da taxa e o ritmo da economia. Entre uma coisa e outra há todo um sistema de filtros que podem de alguma forma comprometer a qualidade dos sinais emitidos pela política econômica governamental. Devemos somar a esses filtros o feito das avaliações dos agentes econômicos que podem não ter poder de voto no sentido político, mas votam no sentido de apostar ou não na atividade econômica.
Vamos viver uma período bem interessante desse ponto de vista. Durante anos, décadas, se insistiu que todos os problemas do nosso crescimento econômicos estavam na taxa Selic e na Política Neoliberal e pró rentistas das direções anteriores do BC. Agora que a taxa caminha na direção do solo e que o BC brasileiro foi enquadrado pelo projeto nacionaldesenvolvimentista vamos viver o teste das verdades dessa fé.
Demetrio Carneiro