Boa parte do debate sobre energia alternativa envolve o uso da energia dos ventos. Por razões bem óbvias, mas sem esquecer que seu uso poderia reduzir de forma acentuada as despesas envolvidas na transmissão de energia, despesas pesadas, por meio da descentralização em consequência do atendimento local das demandas energéticas.
Num quadro caracterizado pelo diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, como de imobilismo para efeitos de 2011 a participação da energia eólica na matriz nacional naquele ano de 0,4%. Num ambiente de tarifas muito altas, devido aos impostos, e corrigidas em valores reais. Contra uma inflação de 5,91% em 2010 as tarifas para as indústrias foram corrigidas em 2011 em 7,2%, conforme informou Pires.
Segundo informação do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, o potencial de energia eólica brasileiro já mapeado chega a 143 mil MW, mas poderia chegar a 300 mil MW apenas tendo em consideração geradores com nova tecnologia. A dimensão desse valor pode ser estabelecida no fato que que a usina de Itaipú, atualmente a maior em operação, produz 14 mil MW. Ou seja a energia eólica disponível pode chegar a 20 Itaipus!
Se pensarmos em termos comparativos no sentido das interferência no meio ambiente dessas usinas (vide Belo Monte) e das próprias redes de transmissão de energia, aparentemente há vantagens importantes à favor da energia eólica. Evidentemente há um longo caminho pela frente, mas seria importante colocar de forma mais clara esse horizonte de possibilidade por meio de uma política muito mais agressiva de investimentos na pesquisa e produção de equipamentos. O último leilão da autoridade energética envolveu muito mais empresas de organização da captação e transmissão da energia, já que não dispomos de industrias nacionais com tecnologia própria e sim de indústrias que usam tecnologia importada.
Um post recente publicado no site do Center for Americam Progress e repercutida pelo Climate Progres, os autores(1), criticam a postura ambígua do Congresso e do governo norteamericano frente a indústria de produção de energia éolica a partir de geradores instalados no mar, próximo à costa.:
"A energia eólica não apenas reduz os gases do efeito estufa ou ajuda a acelerar a transição para as energias renováveis. Ela também permite aos empreendedores americanos desenvolver o desenho, a manufatura e a construção de equipamentos e os empregos gerados. Na Europa, com cerca de 4 mil MW instalados espera-se 160 mil empregos para 2020 e 300 mil para 2030."
Ainda no post uma tabela informa que entre instalações, construções e autorizações para a energia eólica no mar a Europa já tem previstos mais de 24 mil MW, a China mais de 16 mil e os EUA apenas 448. Na escala mundial. Em escala mundial, apenas para a geração de energia eólica no mar, são cerca de 40 mil MW, o suficiente para abastecer cerca de 80 milhões de residências!
Essas áreas de produção de energia eólica no mar podem ser chamadas de "fazendas de vento". Não há tanta certeza quanto a diversos aspectos do investimento no sentido do rendimento das turbinas e essa é uma das razões dos problemas nos EUA - basicamente quanto ao regime de garantia pública dos empréstimos para investimento. Contudo os 40 mil MW mostram que alguma coisa está acontecendo, independentemente das incertezas. Outros pontos fracos seriam o receio de acidentes, já que as turbinas usam óleo lubrificantes e o problema da desvalorização dos imóveis litorâneos. Nesse último caso com referência ao visual dos ventiladores na linha de horizonte. Eles ficam a cerca de 8 quilômetros do litoral, portanto visíveis na linha de horizonte da costa. No caso dos acidentes o histórico atual parece informar que os riscos são muito baixos. Se posto contra o histórico das mudanças ambientais necessárias para instalar uma usina ou linhas de transmissão...Do ponto de vista da desvalorização o posto cita diversas pesquisas realizadas nos EUA e nelas o apoio passa na média de 70%.
Tendo em vista que boa parte da população brasileira se encontrar nas zonas litorâneas, tendo em vista que as hidroelétricas se encontram todas no interior a grandes distancias certamente haveria enormes vantagens no projeto de investimento envolvendo este tipo de tecnologia aplicada nas fazendas de vento marinhas. as vantagens são múltiplas e vão desde a criação de uma rede de produção de tecnologia própria até a geração de empregos diretos e indiretos, passando por todo o debate sobre sustentabilidade.
Da mesma forma que os autores do post do Climate chamam a atenção do Congresso americano é importante chamar a atenção do Congresso brasileiro, tendo em vista que há todo um conjunto de questões institucionais a serem resolvidas. No post comentam a política do um passo a frente e dois atrás. Entre nós não é diferente, quando não são três passos.
Demetrio Carneiro