segunda-feira, 27 de junho de 2011

O TESTE DE RELATIVIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE ESTABILIDADE ECONÔMICA

Aquilo que veio se consagrando como um conceito de Estabilidade Econômica ao longo dos últimos anos - controle da inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuando – foi sendo precarizado numa espécie de “teste de limites”, tendo-se em vista a priorização política de manter um certo ritmo de crescimento do produto a partir de um piso situado em 4%.

Não é preciso ser muito conhecedor de economia ou de história pra saber que há de fato um dilema entre inflação e produto, quando falamos do papel do Estado. Apostas muito fortes no produto, isto é crescimento, como as que foram feitas em 2010 ou agora com o piso, são apostas inflacionárias e a única saída é afrouxar as políticas anti-inflacionárias. Correr riscos. Neste quesito o governo vem andando no fio da navalha ao usar o conceito de teto e não de centro da meta. Encosta no teto em 2011, provavelmente encostará ou até passará em 2012, anos eleitoral, já que o ciclo econômico-eleitoral está ancorado no “fazer política”.

São posturas que parte da oposição assistem em silêncio já que lá no fundo “baixinho quase calado” bate um coração desenvolvimentista que olha com muita desconfiança estas coisas de Estabilidade e vê nelas uma herança neoliberal instalada pelo demônio imperialista.

Numa situação como a atual, nesse mundo meia boca, onde vivemos um processo de stop-and-go de crescimento, que hora trava e hora parece seguir, pode haver espaço para correr riscos a partir de um país como o Brasil. De alguma forma fomos privilegiados na inversão dos termos de troca e acabamos nos favorecendo pela inversão, decorrente, do fluxo de renda entre o país e o resto do mundo. Ele hoje se dá a nosso favor. Da mesma forma a crise nos países desenvolvidos acabou colocando o foco sobre nossa economia, transformada em confiável justamente pelas políticas de Estabilidade, propiciando um fortíssimo fluxo de capital a nosso favor.

No problema é que há fortes sinais de um aprofundamento da crise na Europa, mesmo que a economia americana possa se apresentar um pouco menos vulnerável. Nessa altura do campeonato dois riscos são muito claros. O primeiro é uma queda dos preços das commodities, via redução da demanda, principalmente chinesa, que leve a uma mudança dos preços relativos importação x exportação e reverta o fluxo de renda na direção do resto do mundo. Outra possibilidade será uma queda no nível de ingresso dos investimentos direitos estrangeiros. Isoladamente cada fenômeno desse talvez possa ser enfrentado, mas se ocorrerem no mesmo espaço de tempo a atual política de afrouxamento do conceito de estabilidade será posta à prova e, dependendo da demora de respostas, poderemos ingressar numa faixa de forte instabilidade.

São problemas de vulnerabilidade da economia brasileira que ficam pouco visíveis pelo culto do mercado-que-tudo-resolve.

A se ver...

Demetrio Carneiro