terça-feira, 21 de junho de 2011

CONFLITO DISTRIBUTIVO É O PANO DE FUNDO DA CRISE NA EUROPA

Dan Rodrik já havia sugerido em seu "trilema" que seria uma impossibilidade alinhar estados nacionais, democracia e interesses da União Européia. A crise vai descortinando o drama...

Essas "marchas dos indignados" refletem na realidade questões cujo o fundo chega ao problema da distribuição. Não tem muito a haver com projetos socialitas ou o ressurgimento desse projeto como muitos ambionariam que fosse. Definitivamente nem é o "fantasma do comunismo" rondando a Europa, da fortísima imagem do Manifesto Comunista e que serviu perfeitamente ao marqueting conservador durante quase um século, nem é Lênin ressurgindo para organizar as massas no rumo do paraíso. Parece ser uma coisa muito mais frugal e elementar.

Não foi apenas a classe média americana que praticou o consumo extremo. A classe média européia não agiu diferente. Com o adicional de que os regime de guarda chuva social tem custos adicionais que o americano não tem.

Enquanto as coisas foram bem e todos flutuavam alegremente na doce bolha especulativa americana que impulsionava a economia americana o mundo era cor-de-rosa com bolinhas azuis de otimismo. Instalada a crise os Estados são nitidamente incapazes de auto-sustentar tantas ambições ao mesmo tempo e entram em crise. Claro que as soluções apontam para ajustes fortes ou com redução do nível de consumo ou com redução do tamanho do guarda-chuva ou com aumento dos tributos. Todas as saídas são péssimas no sentido eleitoral e as crises políticas serão inevitáveis. As populações locais estão dispostas a tudo, menos a aceitar entre essas três alternativas.

Problemas concretos para o regime do Euro, pois não haverá como sustentar a moeda com um, dois ou três "sócios" quebrados. Políticos locais deverão escolher entre a demanda de suas populações de eleitores ou a integridade do regime coletivo da União Européia.

Ai entra o pano de fundo: Se não se trata de mais tributo para o conjunto da população ou de cortes de consumo ou bem-estar( o corte do guarda-chuva afeta bem estar), só pode se tratar e distribuir a renda, produto, de outra forma e a maioria (são regimes democráticos de maioria simples de voto) pode decidir que os mais ricos deverão ter uma cota maior de sacrifício frente aos mais pobres. Outros grupos mais radicais poderão decidir que se trata até mesmo de apropriar diretamente os meios de produção da renda, numa visão "socialista".

Como isto, o conflito distributivo, vai se refletir no desempenho das economias locais ao gerar a possibilidade da insegurança e de expectativas pessimistas do ponto de vista dos agentes econômicos ainda veremos e ai saberemos da capacidade da democracia passar por crises mais profundas.

Demetrio Carneiro