quarta-feira, 1 de junho de 2011

EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO

Por coincidência enquanto postava sobre a desindustrialização e cobrava evidências materiais recebi o mailling do César Maia:
PRODUÇÃO INDUSTRIAL NO PRIMEIRO QUADRIMESTRE CRESCE PÍFIOS 1,6 %!



O IBGE divulgou a produção industrial de abril de 2011. Em relação a março de 2011, a queda foi de (-2,1%). Esse número é agravado pelo fato de março ter sido um mês atípico com carnaval. Comparando abril de 2011 com abril de 2010 a queda foi de (-1,3%). No acumulado de 2011, ou seja, janeiro-abril comparado com 2010, o crescimento foi pífio: 1,6%. Lembre-se que em outubro do ano passado o crescimento industrial em 12 meses era de 11,8%, em março de 2011, já havia caído para 6,9% e em abril para 5,4%, em 12 meses. O setor com maior queda foi o de bens duráveis que no mês caiu (-10,1%) e (-5,6%) na comparação abril de 2011-abril de 2010. O fator mais destacado é a taxa de câmbio que está desintegrando a indústria brasileira.



Como se vê lá no finalzinho ele desanca com a questão cambial. Obviamente relacionando o baixo crescimento industrial no Q1 com o câmbio apreciado.

Algumas ponderações:

1 – O produto industrial perde valor relativo em escala planetária. Não é por acaso que os termos de troca brasileiros se inverteram depois de 500 anos;

2 – O problema brasileiro não tem nada a haver com o dólar e muito a haver com a concorrência chinesa que afeta a produção industrial na concorrência interna, solúvel sem a necessidade de intervenção cambial. Aliás “resolvida” com a discussão sobre a reorientação dos investimentos chineses no Brasil. Mesmo país que é fortíssimo concorrente brasileiro no mercado externo. Sendo a China nosso maior “cliente” como é que os ilustres colegas pretendem resolver o assunto?;

3- Já num prazo nem tão longo há uma possibilidade de apreciação do dólar por conta da retomada da economia mricano;

4 – Seja como for também há uma forte tendência de substituição do dólar por uma sesta de moedas que inclui o Real. Neste acaso vamos realmente “querer” um real fraco?;

5- Para encerrar não fica nada claro nos número apresentados por CM, até pelo tamanho da série e o período considerado, se estamos vendo uma soma resultante de questões colocadas acima mais um ajuste de estoques decorrente da mudança do eixo da política econômica de forte estímulo governamental para uma posição mais neutra. Ainda falta a comprovação dessa correlação entre câmbio e crescimento industrial.

Enquanto isso continuo achando que há debates mais importantes como todas as nossas deficiências na área de financiamento de longo prazo, problemas de infraestrutura etc. Lembro um estudo da CNI sobre o custo-Brasil em que afirmam lá pelas tantas que todos os itens desse custos, uma vez vencido representariam uma queda de 15 a 30% no preço final dos produtos. Supondo que o estado não resolva avançar sobre esse ganho, será que esse debate não seria bem mais importante. Ao menos agora?

Demetrio Carneiro