Muitos economistas imaginam que a economia contemporânea encontra uma saída para o excesso de liquidez por meio das bolhas especulativas. Antigamente os processos de destruição criativa, na leitura de Marx, por conta do excesso de liquidez, poderiam chegar mais rápido. O capitalismo tem se mostrado extremamente flexível e o processo de bolhas, embora muito mais arriscado, acaba cumprindo seu papel e absorvendo os excedentes que de outra forma acabariam gerando queda da taxa de lucro e, em algum momento, a quebradeira que já se conhece.
Neste sentido o termo bolha especulativa cabe tanto nos investimentos diretos estrangeiros como na questão das commodities. A razão do forte fluxo de IDE é a situação das economias centrais que não oferece atratividade num mundo onde o capital circula com a velocidade do ADSL. Desde as velhinhas européias, ligadas aos poderosos fundos previdenciários até os COs das grandes corporações, todos, têm seus ganhos e expectativas vinculados a flexibilidade desse processo.
O problema pode estar em duas pontas. Numa é o recrudescimento da crise no centro e a quebra do fluxo pela necessidade de retenção dos capitais. A segunda tem o mesmo efeito, mas está ligada basicamente ao inverso: A retomada dessas economias. Se correr o bicho pega, ficar o bicho come.
Nosso fantástico déficit na questão da poupança e do investimento pode ter o custo da perda de oportunidades.
A questão das commodities é bem clara. Praticamente todo o governo Lula e este início de governo Dilma colhem os benefícios do aumento dos preços das commodities. A questão é que essa bolha tem altos componentes de risco e pode, de fato, sofrer um implosão em algum momento. Deveria ser o caso de se imaginar não um processo eterno de bons preços, mas um processo de bons preços que deveria ser aproveitado ao máximo. Há uma enorme diferença entre os dois comportamentos.
No final estamos falando dos assuntos de sempre: Uma lógica nacional-desenvolvimentista estreita e limitada. Incapaz de compreender o desenvolvimento como um processo bem mais complexo que o crescimento.
Abaixo um texto repercutido pelo César Maia, que apesar de execrado – objeto de ódio - por muitos, tem uma lucidez consistente na economia e na política. Basicamente comenta o fato dessa questão das bolhas por onde navegamos já está se tornando assunto de preocupação de instituições internacionais.
ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA: BOLHA PODE ESTOURAR!
Trechos de artigo de Andrés Oppenheimer no La Nacion (19) e Miami Herald.
1. Estudos publicados durante as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) em Washington confirmam o que o bom senso deveria ter ensinado aos economistas há vários meses: existe um perigo real de que o atual ciclo de crescimento econômico da América Latina talvez não dure muito se medidas urgentes não forem tomadas.
2. O clima das reuniões na semana passada em Washington foi de nervosismo em relação ao futuro econômico da América Latina. Um documento interno do FMI intitulado "Gerenciamento de riqueza na América Latina para evitar a crise”, datado do dia 7 deste mês, começa com um diagnóstico sombrio: diz que a região está numa fase de "vento duplo favorável persistente, com risco de acabar abruptamente".
3. Explica que grande parte da atual prosperidade da região se baseia em duas circunstâncias externas extraordinárias – uma abundante liquidez global, que resulta em grandes fluxos de capital para a região, e um aumento nos preços mundiais das matérias-primas devido à demanda da China - que possivelmente não vão durar muito tempo. "A intensidade incomum dessas condições externas favoráveis podem dar lugar a uma acumulação de vulnerabilidades e um risco maior de uma súbita mudança” disse o estudo.
4. "As condições externas favoráveis podem ocultar vulnerabilidades subjacentes nas contas fiscais, financeiras e externas, assim como gerar uma possível complacência e exuberância''. Isso significa que muitos dos países da região estão gastando mais do que deveriam, tem moedas supervalorizadas e não estão se preparando para o futuro. O documento interno do FMI reflete a opinião de seus autores, mas seu autor principal é Nicolas Eyzaguirre, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI.
5. Outro estudo, da Brookings Institution e publicado no início das reuniões do FMI e do Banco Mundial, também reflete temores sobre o futuro da região. O estudo de 80 páginas, intitulado "Perspectivas econômicas latino americanas", diz que "hoje, o reaquecimento e as pressões inflacionárias estão aumentando, e muitos reguladores financeiros estão se perguntando se o crédito interno já não está crescendo de maneira excessiva". Ele acrescenta que "uma área de especial interesse" no Brasil e em outros países da região, são os excessivos créditos bancários aos consumidores, que possivelmente nunca sejam pagos.
6. Mauricio Cardoso, coautor do estudo da Brookings, disse que há crescentes indícios de que os fatores externos que haviam beneficiado a América Latina podem desaparecer, além de tendências preocupantes dentro da região. A China, cuja aquisição de matérias-primas tornou-se o grande motor de crescimento da América do Sul, acaba de anunciar que vai reduzir sua meta de anual de crescimento. Além disso, é possível que os Estados Unidos aumentem em breve as taxas de juros, algo que diminuirá capital para América Latina, acrescentou.
7. "Há que se poupar na época das vacas gordas", disse Cárdenas. "Ainda temos tempo, pois é provável que vejamos uma mudança das condições externas já no próximo ano".