sexta-feira, 1 de abril de 2011

CAMINHO PARA O GOVERNO MEDÍOCRE?

Já antes das eleições vínhamos comentando sobre a possibilidade de um governo medíocre e suas consequências na política.

De certa forma Dilma vai caminhando para isto. O quadro geral envolve a possibilidade de perda do controle da inflação, a insistente valorização cambial vista como um mal a ser combatido imediatamente e a queda do crescimento.

De fato há uma saia justa quando o compromisso de manter o crescimento envolve uma noção de piso mínimo incompatível com o momento da economia. Mantega costuma dizer que ninguém sabe qual é realmente o teto do produto potencial, para efeito do que pode gerar um processo inflacionário mais intenso. Certamente também não sabe onde e quando parar o estímulo à demanda para garantir o piso mínimo. Talvez dai a dificuldade de reconhecer a existência de um componente inflacionário na demanda.

No discurso oficial havia um gatilho implícito nos 4%. Pois bem, chegamos lá.Agora o dilema inflação versus crescimento ficará mais explícito.
O irônico disto tudo é que a política de piso de crescimento, e o consequênte sacrifício dos pressupostos da estabilidade, poderá levar a uma perda maior do crescimento. Quando estávamos num período de crescimento garantido o dilema era entre manter o superávit ou investir em políticas públicas. O próprio crescimento, mais alguma criatividade, acabou abrindo espaço para a permanência da proposta de superávit.

Agora contexto e propostas são diferentes. A mediocridade pode estar batendo nossas portas.

Para Dilma a oposição amorfa e voltada para seu próprio umbigo é o melhor dos mundos. Bom registrar que muitos oposicionistas participam solidários da solução dilmista no dilema central "crescimento versus inflação" e devem estar tão confusos quanto ela.

Demetrio Carneiro


Para Samuel Pessôa, da consultoria Tendências, BC está mais heterodoxo e governo subestima a inflação de demanda

01 de abril de 2011

Raquel Landim - O Estado de S.Paulo
O Banco Central (BC) está se tornando mais "heterodoxo" no combate à inflação e o governo Dilma Rousseff corre o risco de "meter os pés pelas mãos". A avaliação foi feita ontem por Samuel Pessôa, sócio da Tendências Consultoria e professor do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV), em encontro com investidores em São Paulo.

Ele afirmou que está menos otimista em relação à administração Dilma. O especialista afirmava que as indicações iniciais eram de que seria um governo "fácil" e de "continuidade" em relação ao mandato de Lula.

Na sua avaliação, a presidente deveria focar em três pontos: um ajuste fiscal forte e liberdade para o Banco Central elevar a taxa de juros e manter a inflação sob controle; aumento da carga tributária para financiar a política de reajuste do salário mínimo; e investimentos em infraestrutura para conseguir promover a Copa e a Olimpíada.

"Com essas medidas, o País cresceria menos, mas a sensação de bem-estar seria mantida. Dilma chegaria a 2014 com a popularidade em alta e com chances de ser imbatível nas próximas eleições", disse Pessôa. "Mas apareceram alguns sinais preocupantes nas últimas semanas."

O principal temor do mercado é com a condução da política monetária. Pessôa está receoso com a percepção do governo de que não existe inflação de demanda no Brasil, expressa pela própria presidente Dilma, em entrevista ao jornal Valor.

Para ele, a demanda segue muito forte, impulsionada pelo mercado de trabalho robusto e pelo crédito abundante. A avaliação do governo é que a alta da inflação, que deve superar a meta de 4,5% este ano, foi provocada pelo choque de preços das commodities.

Demanda. Pessôa afirma que o nível da atividade econômica não deve ser medido pelo comportamento da indústria da transformação, que sofre com a concorrência dos produtos importados. Ele disse que a demanda das famílias está crescendo em ritmo bem mais forte.

Heterodoxo. "Agora o Banco Central também começou a ter ideias heterodoxas próprias", disse Pessôa, referindo-se às mensagens da autoridade monetária no Relatório de Inflação, divulgado na quarta-feira.

Para o economista, o sinal mais grave do novo comportamento do Comitê de Política Monetária (Copom) foi o de que "o mercado tenta cooptar o BC, com estimativas mais altas para a inflação, para forçar a alta da taxa de juros".

"Essa é uma percepção de algumas pessoas, mas não corresponde à realidade", disse. Segundo Pessôa, a pesquisa Focus demonstra que o mercado costuma "subestimar" a inflação.

Pessôa também criticou a política de intervenção do governo no câmbio, para tentar manter o dólar acima de R$ 1,60. Ontem o Banco Central atuou pesadamente e garantiu que a moeda americana fechasse com leve alta de 0,06%, a R$ 1,63.

"Não temos mais um câmbio flutuante no Brasil", disse o especialista. "É um câmbio fixo, que o governo gostaria que ficasse acima de R$ 1,70, mas estão perdendo essa briga."

Outra preocupação de Pessôa é com a intervenção do governo na iniciativa privada. Ele diz que os dois casos mais emblemáticos são o rombo no Banco Panamericano e a sucessão na Vale.

No caso Panamericano, os bancos privados concordaram em salvar o banco de Silvio Santos após pressão do governo. Na Vale, auxiliares de Dilma estão pedindo a substituição do atual presidente, Roger Agnelli.

Caindo na real

SAMUEL PESSÔA
SÓCIO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA E PROFESSOR DO IBRE/FGV

"Não temos mais um câmbio flutuante no Brasil. É um câmbio fixo, que o governo gostaria que ficasse acima de R$ 1,70, mas estão perdendo essa briga."