quinta-feira, 28 de abril de 2011

LIÇÕES MEXICANAS DO PADO

A lógica do Padovani, no post em seu blog O negócio é o seguinte reproduzido abaixo, é tão óbvia que pode surpreender alguns: Crescimento e inflação se relacionam diretamente.

Esta é a armadilha para o pensamento econômico do governo Dilma, cuja base é o conceito de crescer a qualquer custo. Nesse pensamento econômico não existe a percepção de que o crescimento é um processo dentro de um sistema extremamente complexo e que sua sustentabilidade de longo prazo é condicionada não pela vontade do Estado, mas por um contexto historicamente objetivo.

Enfim, uma boa estratégia de crescimento precisa perceber que não se trata de algo linear, tipo "sempre em frente". Pelo contrário uma boa estratégia vai perceber o contingenciamento imposto por realidades externas à vontade do gestor e pode realmente haver momento onde a estratégia mais eficiente é crescer menos, bem menos ou até nada, como forma de garantir a permanência de elementos importantes de economia como confiabilidade, expectativas, controle sobre processos desestruturantes, para que os anos futuros tragam mais crescimento, porém sustentável e sólido.

Há um enorme medo de repetir o crescimento mediocre de FHC, fruto da ironia e do desprezo petista durante todos esses anos.
Nada pior do que quando o véu ideológico perturba as escolhas de gestão.

Para finalizar é bom registrar ao distinto público leitor que o crescimento a qualquer custo também tem outro problema que é a incapacidade desse tipo de pensamento estreito captar um debate extremamente atual e que deveria ter servido de lição por conta da crise de 2008: Crescer QUAL crescimento?

Lições mexicanas

Roberto Padovani 

Já está claro para todos que a inflação hoje é um fenômeno mundial. A agressivamente frouxa política monetária norte-americana elevou a liquidez global e pressionou, como esperado e desejado, os preços dos ativos. Os preços das commodities, em particular, dispararam. O resultado tem sido a alta inflacionária em países emergentes e desenvolvidos. Nos países emergentes, que apresentam maior crescimento, a preocupação com inflação é claramente maior.

Mas há uma honrosa exceção. Diferentemente de grande parte dos países latino-americanos, a inflação no México se mostra controlada. A razão para isso é que o crescimento local tem estado abaixo do nível de longo prazo. A economia mexicana, amplamente dependente dos Estados Unidos, mostra taxas de desemprego elevadas em relação à média histórica. Este tem sido o fator principal para os modestos impactos inflacionários gerados pela alta dos preços de commodities.

A experiência mexicana explicita a clara relação entre crescimento local e inflação. Este desempenho sugere que a economia brasileira diante do atual choque de custos terá, necessariamente, que desacelerar. Para isso, o gasto público é fundamental. Não apenas porque a forte expansão fiscal em 2009 e 2010 tem sido um dos motores da expansão local - o gasto público teve um aumento de quase 3 pontos percentual do PIB – mas porque em um ambiente de elevada liquidez global vale usar outros instrumentos que não apenas a taxa de juros. Evita-se, deste modo, que a valorização da moeda reforce os já graves problemas de competitividade do País.