A reação do câmbio mostra que as medidas que o governo possa adotar na área cambial não “resolvem” a apreciação do real. Emparedado pela nossa evidente incapacidade de formar poupança interna suficiente e tentado pela vasta e historicamente rara oferta de abundantes capitais internacionais o governo parece ir arquivando o discurso nacionalista de proteção da indústria nacional. Parece que a decisão é ir diretamente o ponto e discutir com os chineses o problema da “invasão oriental” em solo pátrio. As autoridades chinesas por sua vez vão dando sinal de compreender os insistentes recados da comunidade internacional. O que se entende, pois a gritaria é geral. O Brasil por sua vez é não é apenas consumidor de produtos chineses. É fornecedor da commodities estratégicas e talvez tenha posição de força para criar fatos que podem obrigar a China a ter um certo cuidado com as consequências de sua invasão.
Talvez, também fosse a hora do governo Dilma falar sério e apresentar propostas estruturantes na área de formação de poupança e institucionalização do financiamento de longo prazo à partir do jogo privado, por exemplo. O argumento do uso do BNDES para tudo que se trata de financiamento está vencido e é evidentemente inflacionário, sem contar o prejuízo no bolso do contribuinte em termos de custo tributário. Deve ser muito legal para o nacional-desenvolvimentismo ficar festejando o papel pró-ativo do Estado no crescimento brasileiro, mas está na hora de crescer e perceber que a feste tem um custo que vai na direção inversa da proposta final que seria o bem estar do povo brasileiro. Infelizmente a ideologia costuma deformar com muita eficiência a visão das pessoas, como diria o Althusser.
É por ai, mas não apenas, que estas coisas se ligam: Carência de recursos de investimento para um uma país que deles necessita desesperadamente para aproveitar uma dada janela de oportunidade. Na ponta do câmbio tem a apreciação e na ponta da inflação o gasto como instrumento de crescimento. Somando aqui a teoria do piso mínimo poderemos ter uma mistura explosiva. Mesmo que o governo esteja meio que deixando as coisas andarem no câmbio, talvez parte do governo não quisesse mesmo. A chamada de ontem tinham tons de anúncio sensacional, a leitura política de um piso poderá trazer novos problemas. O IPCA continua firme na sua trajetória de ruptura da banda superior e logo vai transformar em poeira o argumento da flutuação admissível dentro da banda. Para baixo e para cima segunda as esperanças de Mantega. Além do horizonte, em 2012 as coisas também não andam nada bem.
Como ressaltou Dilma, não existe inflação gerada pela pressão da demanda devido ao excesso de recursos disponibilizados. Como disse Mantega este papo de teto de produção é furado. A depender do governo a culpa da inflação está em outro lugar, fora do Brasil, por exemplo. Portanto que culpa eles têm se a natureza e o mundo conspiram contra o país?
Com tal quantidade de gênios espertos na economia estamos bem arranjados.
Demetrio Carneiro