Porém, o não crescer para aqueles que imaginam que a tarefa principal é o crescimento (por favor, diferente de desenvolvimento, certo?) significa que patamares FHC de crescimento são execráveis.
Enfim, a flexibilidade concessiva aos termos básicos da Estabilidade termina por ai. De forma muito visível entre inflação e crescimento o governo Dilma escolheu crescer, mesmo que com alguma inflação.
O problema é que apesar do blá-blá-blá da ministra, do ministro e da presidenta o dever da casa fiscal está muito longe de ser feito e o peso todo vai para a política monetária. Ai tem um problema. Não subir a Selic, além de promessa de campanha, virou compromisso moral. Percebido pelo setor nacional-desenvolvimentista de quem o IPEA foi a voz ao “denunciar” a pressão do mercado por maior aumento.
Talvez coordenação de políticas não seja exatamente isso: O resultado final é o BC, ao contrário de cumprir seu trabalho de afetar positivamente as expectativas, no sentido de indicar combate à inflação, afetando negativamente, se mostrando retraído.
Faltou coragem para um choque que indicasse claramente que não haveria tolerância. Tem hora que o discurso, mesmo da presidente, como de fato foi, não resolve nada e é a ação que importa.
Enfim, de vagar e querendo ir longe talvez não dê para ir muito longe. O governo caminha no fio da navalha, pois mesmo políticas monetárias mais pesadas podem falhar quando o processo inflacionário decola. Brasileiros têm uma farta experiência no pedaço. Que o diga o amigo, e conselheiro, do Rei, Delfin.
Devagar e sempre, BC espera conter a inflação
Eduardo Campos - Valor
26/04/2011
Sem grande surpresa e movimentação, o mercado de juros futuros colocou no preço a decisão e a sinalização dada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na sua reunião da semana passada.
A alta de 0,25 ponto percentual, que levou a Selic para 12% ao ano, colocou os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) curtos para baixo, mas estimulou uma alta no vencimentos mais longos.
A expectativa nas mesas recai sobre a ata, que sai na quinta-feira, e deve explicitar os motivos que levaram o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo e optar pelo alongamento do ciclo de aperto monetário.
Seria salutar saber, também, o que argumentaram os dissidentes, já que dois dos sete diretores pediram nova alta de meio ponto.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, o colegiado tomou uma decisão salomônica, ou seja, tentou contentar duas correntes distintas.
A alta de um quarto de ponto percentual está alinhada com o discurso recente do próprio Copom e com o desenho da curva futura antes da decisão. Já o aceno de que o ajuste será alongado visa conter uma piora nas expectativas de inflação.
Juros futuros de longo prazo sobem após Copom
Ainda de acordo com Leal, um fato positivo é a melhora na comunicação da autoridade monetária.
Ao defender o 0,25 ponto, o Banco Central foi claro ao indicar que vale o que foi dito na comunicação oficial.
Objetivamente, diz Leal, os dados divulgados desde o Copom de março iam contra essa decisão, mas, para não ser atropelado pelos fatos, o colegiado manobrou com o comunicado, indicando que novas altas devem vir.
"Leia o que estou escrevendo e ouça o que estou falando, que o caminho é por aí. Esse foi o recado do BC. Em termos de comunicação o resultado é positivo", avalia Leal.
Pelo lado da estratégia, no entanto, o economista acredita que a decisão foi um tanto arriscada. O BC teria perdido a chance de dar um choque de credibilidade, colocando-se à frente do mercado.
O especialista lembra que o importante não é o tamanho do ciclo, mas sim por quanto tempo a taxa ficará acima daquela considerada neutra. Portanto, quanto antes a Selic atingir tal patamar, maior será o impacto das decisões de política monetária.
Outros questionamentos comuns nas mesas são se outra alta de 0,25 ponto está no programa, por que esperar mais 40 dias? E o que poderia acontecer para justificar uma mudança de postura até o encontro de 8 de junho? Quem sabe a ata responda essas dúvidas.
O sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, aponta que o aumento de taxa nos vencimentos longos ilustra a incerteza do mercado com relação a essa estratégia gradualista adotada pelo Copom.
O especialista também vê como arriscada essa "aposta" do BC. O cenário usado pela autoridade monetária poderá levará alguns meses para se confirmar e, caso haja uma surpresa no preço das commodities ou no comportamento da inflação doméstica, o BC precisará responder com mais altas de juros no decorrer do ano.
Na visão do estrategista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno, além da questão de controlar uma piora nas expectativas, a redução de passo com aceno de novas altas também mira a questão cambial.
Ao dividir o aperto, o BC segue no modo de alta de juros e dilui impacto disso para o mercado de câmbio. O comportamento do real e dos fluxos de recursos externos também está no radar do BC, lembrou Rostagno, que não descarta a adoção de novas medidas prudenciais.
O chefe de pesquisas para América Latina do Nomura Securities, Tony Volpon, nota que o BC busca "comprar tempo" com essa decisão para ver se as incertezas que cercam o ambiente externo e doméstico se dissipam.
Para Volpon, parece existir certa cautela do BC para não "apertar demais" os juros, por isso da opção pelo modo "conta-gotas".
Para o especialista, se os fatores externos, especificamente o preço das commodities, se estabilizarem é possível que a estratégia gradualista do BC funcione. Mas, considerando o quadro atual, essa é uma suposição forte para um período marcado pela fraqueza continuada do dólar e pela demanda ainda aquecida.
"O Banco Central também perdeu uma oportunidade de construir um seguro sobre a sua estratégia atual ao optar pela moderação do ritmo de ajuste. Agora, só o tempo dirá se essa decisão se mostrará correta", conclui Volpon.
Colocando as avaliações acima de outra forma, na linguagem dos traders de juros: "Deus proteja o vendido em DI".
Eduardo Campos é repórter