A matéria abaixo, publicada no Valor de hoje, 26, não diminui a força dos argumentos do post anterior.
A redução da liquidez, via redução do compulsório, realmente retira pressão e a pressa, mas não elimina a questão estrutural ou a pressão de demanda gerada pela despesa do setor público ou o efeito, mesmo inercial,das políticas de estímulo, o produto potencial continua no mesmo lugar, com ou sem aumento do compulsório.
A notar o fim da matéria onde Meirelles especula sobre onde estará o PIB potencial do Brasil pós-crise, deixando em aberto uma leitura de que o poderia haver uma mobilidade para cima da fronteira, o que retiraria igualmente a pressão inflacionária adiando um aumento da Selic. A se ver.
De qualquer forma a pressão política sobre o BC não será pequena, já que o assunto abala o discurso de Lula.
Demetrio Carneiro
Compulsórios devem adiar a alta dos juros
Cristiano Romero, de Brasília
26/02/2010
O recolhimento de depósitos compulsórios, no valor estimado de R$ 71 bilhões, terá impactos sobre a política de juros do Banco Central. Meirelles: "Há recuperação forte da demanda, do consumo privado e público e do investimento"
O recolhimento de depósitos compulsórios, no valor estimado de R$ 71 bilhões, terá impactos sobre a política de juros do Banco Central. Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, a medida foi adotada para diminuir o excesso de liquidez na economia, que ameaçava levar o mercado a assumir posições de risco. Em entrevista ao Valor, ele deixou claro, no entanto, que, ao reduzir a liquidez, a decisão ajudará o BC na tarefa de controlar a inflação.
Meirelles se recusa a vincular o recolhimento dos compulsórios com a política de juros. Na prática, porém, isso pode significar o adiamento da elevação da taxa básica, aguardada para breve por setores do mercado. "A liquidez se mostrou elevada nas últimas semanas e meses, e nós temos meios de medir isso através das nossas operações de mercado aberto", explicou o presidente do BC. Como o aumento dos compulsórios não é neutro do ponto de vista de política monetária, cumprirá parte da tarefa que, antes, estaria a cargo apenas da taxa Selic.
"Não há dúvidas que a decisão tem efeitos de política monetária. Restrição ou injeção de liquidez tem impactos monetários", afirmou Meirelles, ressalvando, porém, que o melhor instrumento para combater a inflação ainda é a política de juros. "Não procuramos substituir um mecanismo por outro. Para o controle específico de liquidez, em alguns momentos o recolhimento ou a liberação de compulsório, como fizemos em 2008, é um mecanismo extremamente eficaz".
Questionado se a previsão de crescimento de 5,8% para a economia brasileira neste ano, feita pelo BC, é sustentável, Meirelles respondeu que, como o país passa por momento de recuperação de uma crise, é possível crescer acima do seu potencial sem gerar descontrole inflacionário. Ele disse, todavia, que ninguém sabe ainda em quanto está o chamado PIB potencial do Brasil pós-crise.