Abril é outono, embora o outono brasileiro não seja exatamente bem definido, ainda assim, no nosso imaginário é o mês em que as folhas caem das árvores. Mas apenas as folhas deverão continuar caindo...
Abril continua sendo o lugar da inflexão da curva da Selic. Preventivamente, digamos assim, o sistema bancário já reajusta para cima suas taxas, principalmente no crédito às empresas. No mercado a retomada do emprego, aumentando o potencial de demanda, é vista como um elemento a mais de pressão sobre a Selic.
Política econômica responsável nunca foi fácil, principalmente quando as condições estruturais ajudam muito pouco. Incapacidade de investimentos de médio e longo prazo, inconsistências na construção de políticas de estímulo à poupança que possam reverter como investimento. Resultado: O produto real sempre oscila muito perto do produto potencial, condição de pressão inflacionária.
No conceito de política econômica populista é mais simples ampliar a faixa de variação da inflação. Ou seja reações mais lentas das autoridades monetárias na lógica de que um pouco a mais de inflação viabilizando um pouco a mais de crescimento é melhor para o país.
Outros grupos mais radicais e que entendem menos ainda da economia, preferem “segurar” a Selic por decreto, imaginando que o Estado tem poder, que não tem de fato, de controlar os juros reais.
Outros, mais radicais ainda, afirmam que é tudo coisa neoliberal e que não precisa ter qualquer grau de preocupação com inflação, pois o importante é o crescimento que minorará as questões da desigualdade.
Olhando para a política nenhum desses grupos olha para onde realmente deveriam olhar sem estivessem autenticamente interessados nas soluções dos problemas de nosso desenvolvimento: Para a questão estrutural.
As políticas públicas brasileiras têm um longo histórico de atuação ineficiente frente ao processo inflacionário e o impacto disso na distribuição de rendas está ai nos livros para quem não for incapaz de ler, não por analfabetismo, mas por questões ideológicas e culturais. Contraditoriamente os que criticam a política monetária da estabilidade são os mesmos que criticam a concentração de renda. Na prática estão muito próximos, e não por acaso, de Delfim Netto, aquele que defendia “uma pouco mais de inflação”, mas já alertava que o bolo teria que ser dividido depois. Nesse ramo não há coincidências.
Então ficamos assim. Lula passou todo o ano de 2009 afirmando que a Selic não podia subir. Aliás, mirando a Selic como “responsável” pelo custo do crédito. A taxa administrada pelo BC seria ela a culpada de nossos males, pois o custo de financiamento das empresas nacionais é muito alto. Concentração bancária patrocinada pelo poder público, aquecimento da demanda via gastos públicos, também não são problemas. Na estratégia de governo são soluções, ações inocentes e bem orientadas, portanto não podem ser capazes de gerar o mal. Nessa lógica é mais fácil bater no rentismo patrocinado pelas autoridades monetárias. Não diz nada, mas impressiona e soma aliados à esquerda.
Já Dilma Roussef, mais realista e de olho na questão do financiamento externo, portanto sensível ao problema da confiabilidade, que deverá sustentar seus projetos mais fortes, Pré-Sal-Copa-Olimpíada-PAC, fez declarações públicas defendendo a estabilidade.
Abril vem ai. Vamos ver o que dirão os principais atores políticos.
Demetrio Carneiro