quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

OEA DO B – A NOVA GUERRA FRIA

Nem todos ficaram satisfeitos com o fim da guerra fria.
A guerra fria tradicional, Bloco Capitalista x Bloco Socialista, trazia em seu bojo uma outra concepção: A questão da relação de dominação/subordinação entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, dentro do Bloco Capitalista.

Na realidade era o espaço de transição do capitalismo para o socialismo. Seguindo a doutrina leninista do elo mais fraco seriam os países em desenvolvimento que apresentariam maiores contradições internas capazes de viabilizar a instalação de um regime socialista. Politicamente essa luta se daria também pela ruptura das relações de exploração do núcleo sobre a periferia. A ruptura seria o socialismo e a inserção do país num outro bloco de relações, Bloco Socialista.

A desconstrução do Bloco Socialista e o fim da guerra fria tiveram como um dos efeitos a desorganização do discurso da luta anti-imperialista. A lógica da luta é de que havia um outro lugar na ordem mundial que seria de relações mais justas e fraternais entre países. A vida real se encarregou de mostrar que nunca houve esse lugar.

Todo o discurso bolivariano é, em parte, uma tentativa de recriar esse lugar no mundo.
Recriado o lugar idílico, recria-se automaticamente o discurso clássico.
Embora o lugar na ordem planetária esteja em gestação existem toneladas de textos, argumentos, falas, discursos, teorias, enfim toda uma cultura de dezenas de anos que está órfã e pode ser apropriada por qualquer um que tenha o “outro lado”, que é o restante da equação, para oferecer.

Os inimigos dos povos em desenvolvimento estão ai mesmo: O núcleo dos países desenvolvidos, comandado pelo satã máximo e seu aliado fiel: Estados Unidos e Canadá. Existem satãs menores que, ao seu tempo, deverão ser expostos.

Evidentemente terão ainda que explicar desenvolvimento “para onde”.
Na época da guerra fria os países em desenvolvimento, aqueles onde o capitalismo não se achava plenamente amadurecido dariam um salto de qualidade diretamente para o modo socialista de produção. Então esse era o sentido da palavra desenvolvimento.
O bolivarismo está muito longe ainda de saber explicar não de onde se vem, mas para onde se vai. A crise econômica que a Venezuela atravessa e as respostas proto-facistas de Chávez não dão muito espaço. De qualquer forma já existe o discurso. Trata-se apenas de espanar as poeiras e buscar aliados em outras regiões. Ai estão o Irã e a França-que-ruma-ao-socialismo.

De qualquer forma é uma cultura que se presta maravilhosamente às justificativas de operações de poder. Realmente o aperfeiçoamento da doutrina não é nada importante. Importante é que há um fortíssimo discurso político que empresta um inimigo, dá um foco à luta e, automaticamente explica qualquer atitude como justa porque é contra o “outro lado”. 

Projeto de poder interessado de um grupo de dirigentes nacionais que não tem qualquer projeto real a oferecer aos povos latino-americanos. É tudo que a OEA do B é. Não soluciona nada. Não acrescenta nada, mas contribuirá para piorar muito o atual quadro mundial pontuado por iniciativas regionalistas e protecionistas. Não resolve de forma correta a inserção do Brasil num conjunto de relações que sejam positivas para nosso futuro.

É um discurso de justificativas pela oposição natural. Nada melhor para justificar o próprio poder e suas necessidades.
A luta anti-imperialista e pela manutenção da coesão do Bloco Socialista explicou todo tipo de repressão dentro e entre países do bloco e ações fora dele. Tudo era o socialismo e a revolução. Mas também serviu para que essas economias se mantivessem em ritmo mediocre, beneficiando apenas suas elites tecno-burocráticas dentro do aparelho do Estado.

O único problema desse tipo de doutrina é o alinhamento automático.
Parece, do lado brasileiro, que alguém se esqueceu de perguntar ao povo se, em algum momento, transferiu-se para os atuais governantes o direito de alinhar automaticamente a nação a esse ou aquele bloco.
Deveriam ler melhor a Constituição Federal e deveria o Senado Federal entender melhor o seu papel constitucional de revisão da política externa brasileira. O silêncio senatorial é estranho.

O conceito de OEA do B, a criação do tal Conselho de Política Externa, somados ao revival conselhista e à Consolidação das Leis Sociais no formato que se propõe, todas medidas produzidas nos últimos momentos do atual governo têm evidentemente a finalidade de “enquadrar” o futuro governo e constrangê-lo.
Se se fizer o que se impôs, ótimo. Se não se fizer o que foi imposto certamente haverá muito espaço para criticar os aliados do imperialismo ou os agentes do neoliberalismo. Viva a oposição!

Demetrio Carneiro