sexta-feira, 23 de julho de 2010

PARA ONDE VAI O DEBATE

A fala de Marina em NY deu a sensação de que a Estabilidade realmente é conquista e nenhum dos três candidatos vai estar disposto a alterar de forma mais profunda a proposta.
Evidentemente a questão vai estar em definir o que é “Estabilidade” na prática e avaliar se a política macroeconômica como vem sendo tocada é capaz de garantir então que vivamos num quadro sustentável de estabilidade.

Num debate pouco programático, onde imperam o leilão de metas e os factóides essa questão da crítica da Estabilidade, pelo lado de sua sustentabilidade de médio e longo prazo, é uma vasta região onde silêncio domina.

O que a Estabilidade não "resolveu" foi a taxa de juros básica da economia, da mesma forma que não apresentou solução para a forte apreciação do real.
Evidentemente nem a crítica ao rentismo, ao neoliberalismo ou ao imperialismo ou a pressão política sobre o BC, por conta das eleições, são solução.

É mais ou menos semelhante o posicionamento dos candidatos contra os juros altos ou a preocupação com a apreciação do real.
Apenas não dizem com clareza o que pensam fazer.

Serra ainda deu uma pista sugerindo que há uma falha no modelo devido à falta de coordenação das políticas. Daí a atenção especial ao modelo chileno. A questão é que lá não existe o quase descontrole da política fiscal que vivemos aqui.
Dilma dificilmente caminharia por ai, já que o nacional desenvolvimentismo básico, que fundamenta a sua lógica ,tem uma base fortemente keynesiana e como tal irá sempre defender não a coordenação, mas o controle da política fiscal sobre a política monetária. Como, na prática isto não é totalmente viável, eleita Dilma é bem capaz que a contradição continue.
Marina não fez nenhuma manifestação mais clara, mas é de se admitir que acabe caminhando numa lógica semelhante a de Serra no sentido de um afinamento do modelo.

Na realidade o que há de comum entre os três é muito mais o nome do conceito e a percepção de que o tema está no radar dos eleitores. Será no pós eleitoral, quando a questão fiscal vier cobrar a sua fatura, que teremos o teste de esforço da proposta de Estabilidade. Também será lá que esta falha do modelo, a falta de coordenação das políticas ficará mais evidente.

Nesse contexto a proposta do Tony de realizar a coordenação das políticas fiscais e monetária tendo como referência uma meta de crescimento associada a uma meta de inflação, num ambiente resolvido institucionalmente, usando o superávit estrutural como “regulador” dos ciclos, tem consistência e sentido.

Demetrio Carneiro