quinta-feira, 8 de julho de 2010

DO QUE OS PROGRAMAS DE SAÚDE DOS CANDIDATOS NÃO FALAM...

Como mencionou um amigo referindo-se às questões da saúde pública: “não costuma existir soluções muito simples para problemas muito complexos”.
Programas de governo voltados para a mídia tentam na realidade repercutir a percepção dos eleitores. Se todos acharem que o quadrado é redondo os marqueteiros se encarregarão de resolver rapidamente a quadratura do círculo. De preferência em três linhas e uma palavra-de-ordem.
Questões como a saúde pública, que são complexas e apresentam problemas que vão muito além de sua própria dimensão específica, são resolvidas de forma bem simples e elementar.
É isso que transforma todos os discursos numa só fala, pasteurizada, asséptica, já que o assunto é saúde.

Vejamos o caso das famosas filas que fazem a festa das mídias em todo o Brasil.
A percepção da população, em geral, é de que as filas são uma aberração tão injusta quanto as consultas marcadas com quatro meses de antedência por falta de horário.
A “solução” marqueteira é acabar com as filas. Se lá como for o que deve estar na boca do candidato que as filas irão acabar.

O que talvez não tenha ficado muito claro é que o modelo brasileiro ainda é excessivamente “hospitalocêntrico”, como poderíamos dizer.
Como “ganho na margem” construir hospitais dá mais resultados para políticos e, muito provavelmente, empreiteiros.
Evidentemente não fica apenas ai.
A ideologia hospitalar também tem suas conecções com os laboratórios farmacêuticos, uma das mais poderosas industrias do planeta.

O problema é que a proposta do SUS fala em uma interconecção de diferentes níveis de assistência.
No primeiro nível, o básico, seriam feitas a maior parte dos atendimentos, que são os mais simples. Este nível tem uma forte vocação preventiva. Ao contrário dos níveis de média e alta complexidade que lidam com os fastos consumados.

A grande questão é que dá trabalho, é complexo, articular as redes de baixa, média e alta complexidade.
Dentro do princípio federativo os municípios têm a competência direta para instalar as redes de atenção básica.
Para a maioria dos prefeitos é bem mais simples e vistoso comprar ambulâncias. Que é uma versão “social” da prefeitura-chafariz.
Ai, mesmo que um município tenha a melhor rede de atenção básica do planeta os seus hospitais permanecerão lotados pela demanda dos municípios próximos.

É um pouco um “beco sem saída” federativo que só se resolveria se houve um mandato constitucional punitivo contra prefeituras ineptas para as grandes questões como saúde e educação, por exemplo. Até lá tem que contar é que as populações locais façam algo por si próprias. No fim do dia tem a haver também é com déficit de cidadania.

As lógicas atuais para superar o problema das filas acabam sendo lógicas de quebra-galho dada o completa assimetria de instalação do SUS no território nacional.
Na realidade é muito mais que um debate, falso, entre privatizar, usar o terceiro setor ou estatizar, pois toca em nossas raízes federativas e republicanas.

Programas de governo midiáticos andam muito longe de capturar este tipo de questão ou de ousar chamar a sociedade para este tipo de debate.

Saudações
Demetrio Carneiro