Na matéria abaixo, repercutida pelo site da FECOMERCIODF, o Tony faz uma avaliação da decisão do BC no sentido de “ampliar” o seu olhar para 2012. Como tivemos antes outra “ampliação” para 2011 fica a questão apontada por ele: "Essa mudança vai muito além de debater qual é a próxima decisão; é uma mudança de postura operacional do sistema de metas".
É bom lembrar que nos comentários sobre a previsão de inflação de 5,5%, quando da divulgação do último Sensor Econômico do IPEA, ficou no ar alguma coisa como o número estar “dentro da meta”. Evidentemente não está, já que o BC trabalha no sistema de “alvo”, o centro da meta. Sendo o IPEA estrutura de apoio do Ministério da Fazenda não fica difícil imaginar o quanto essa leitura está próxima daqueles que defendem a “flexibilização” da Meta de Inflação.
O debate sobre flexibilizar a meta, soltar um pouco as rédeas do controle sobre a inflação, não é recente e a proposta vem à tona praticamente toda vez que o BC é obrigado a elevar a SELIC.
De certa forma parece que olhar mais longe acaba ajudando o BC a não se sentir na obrigação de ter que manipular a taxa com tanta frequência e resolve parte do debate sobre a autonomia do banco. Bastante claro que a SELIC em si tem um componente político importantíssimo e, por isso, tem papel relevante na disputa eleitoral.
Para a candidata do governo seria bem mais confortável não ter que “defender” cada aumento, já que seu grau de autonomia e opinião própria é zero.
Do lado da oposição cada aumento é uma “facilidade” para o discurso do “juros baixo”.
Noves fora...é melhor o BC jogar o abacaxi para a próxima gestão e produzir uma “alteração técnica” no regime de metas.
Evidentemente fica incoerente, mas quem falou em coerência quando a questão é eleger a candidata de Lula.
Demetrio Carneiro
BC surpreende mercado ao colocar foco em 2012
Fonte: Valor Econômico
Angela Bittencourt e Lucinda Pinto, de São Paulo
O Copom surpreendeu ao ampliar, até 2012, o horizonte de relevância para tomar suas decisões. A leitura de analistas é que, com essa novidade, a autoridade monetária abre espaço para ser mais tolerante com choques de curto prazo da inflação - o que reforça a perspectiva de que o aperto monetário pode ter sido concluído, mas também amplia riscos de pressões inflacionárias mais à frente.
Tony Volpon, chefe de pesquisa para América Latina da Nomura Securities, considera que, com a ata, o BC não terá de reagir a cada choque da inflação. "Essa mudança vai muito além de debater qual é a próxima decisão; é uma mudança de postura operacional do sistema de metas", afirma Volpon. Ele observa que, em março, o BC já havia ampliado o horizonte, ao indicar que 2011 já entrava no radar. Mas, agora, o prazo tornou-se muito mais longo. E isso pode indicar que o Copom quer uma Selic menos volátil, o que tem como consequência mais oscilações na inflação dentro dos limites da meta estabelecida para o ano.
Para o Banco Santander, ao citar projeções para 2012, o Copom aumentou o prazo esperado para que a inflação retorne ao objetivo. Por essa razão, o banco passou a esperar estabilidade da taxa básica até dezembro, em 10,75% ao ano. "Esse é o destaque da ata", pondera Cristiano Souza, economista do Santander. "Se o Copom citou 2012 é porque ele olhou mais adiante e tomou sua decisão. A ata indica claramente que a Selic a 10,75% deve levar à convergência da inflação da meta e isso nos fez mudar a projeção de ajuste".
Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina, está convencido de que uma pausa no ciclo de aperto monetário está a caminho, com o BC vendo convergência da atividade e da inflação para a meta, sem mostrar muita preocupação com a possibilidade de que a melhora de curto prazo pode não ser consistente. "A ata sugere que o BC está dando mais peso aos dados recentes, o que fica evidente com o uso frequente da expressão "na margem". Esta é uma postura diferente assumida pelo BC", afirma. Ele avalia que a ata indica que a elevação da Selic em 0,50 ponto poderia até não ser feita, uma vez que o documento considera que este aumento "intensificou" o processo de redução de riscos para a inflação.
O teor da ata reforçou entre especialistas a ideia de que o ciclo de aperto monetário pode realmente ter acabado. Mas não eliminou o risco de o Copom ter de voltar a subir os juros. Para Souza, do Santander, a perspectiva de atividade não é de fraqueza e, por isso, o Copom terá de agir de novo. Ele explica que o primeiro e o segundo trimestres deste ano são desbalanceados, mas pondera que no terceiro e no quarto trimestres a atividade tende a reagir e pode bater na inflação. "O emprego continua crescendo, os salários também, a política fiscal segue expansionista e a política monetária também é expansionista até o fim do ano, porque ainda está refletindo a Selic de 8,75%. A única dúvida é se o crédito continua avançando, mas as indicações do BC são de que sim, ainda que em ritmo menor", afirma.
Carvalho, do BNP Paribas, considera que, "ao comentar sobre a inflação em 2012, a ata levanta incerteza quanto ao horizonte de observação contemplado pelo Copom." "Também devemos considerar que nessa ampliação de horizonte os riscos crescem", pondera. Para o economista, a tendência de crescimento econômico não é tão forte quanto os dados do primeiro trimestre indicaram, mas não tão fraca quanto as indicações do segundo trimestre. Ele considera inadequado extrapolar o resultado do primeiro trimestre e também do segundo trimestre. "A verdade está no meio do caminho. E entendo que a recuperação será maior no segundo semestre. Considerando que a folga da economia está limitada, é possível que a atividade e a inflação nos próximos trimestres venham a levar o BC a retomar a alta do juro", conclui.