segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O que aprendemos com a crise?

Chegaremos ao meio deste mês no aniversario do evento que definiu a crise global: a quebra do banco Lehman Brothers no dia 15 de Setembro, 2008. Parece então um bom momento para perguntar: o que aprendemos com essa crise sobre a economia brasileira? Vou colocar aqui algumas observações, sem nenhuma pretensão de fornecer uma lista completa.

 

1.    Um colchão de reservas internacionais foi crucial para proteger a economia brasileira: Ficou claro durante a crise que se o BC não tivesse acumulado reservas que o impacto da crise sobre a economia teria sido muito maior e pior. Sem isso o processo de desvalorização do Real teria sido maior, teríamos um impacto inflacionário e o BC provavelmente teria que ter puxado os juros. A pergunta mais interessante é porque alguns paises parecem precisar esse colchão, enquanto outros não. Eu, que no passado já tinha criticado o BC por ter acumulado o que me parecia ser níveis exagerados de reservas cambiais a um custo fiscal grande, hoje acho que o BC acertou.

2.    Corte de impostos funcionam como medida anticíclica, investimentos públicos não: Se olharmos a resposta fiscal do governo vemos que a única coisa que foi acertada foram os cortes de impostos, que tiveram papel importante em ajudar a indústria baixar seus níveis de estoque e assim apressaram o processo de ajuste da economia real. Também aprendemos que o brasileiro gosta mesmo é de um “bom negocio” e reage rapidamente a qualquer incentivo. Isso vai contra tanto o pensamento liberal que não gosta de corte de impostos somente para certos setores, como o pensamento keynesiano que acha que somente os investimentos do setor publico funcionam. Aprendemos que o Estado brasileiro não tem como usar política fiscal de forma anticíclica do lado da despesa, mas pode reagir do lado dos impostos. Isso, eu acredito, fornece uma poderosa prova que deveríamos dar mais agilidade e flexibilidade a política fiscal para retirar da política monetária todo o peso de gerenciar a demanda agregada. Essa vai ser a única maneira do Brasil ter um nível de juros reais “decente”.

3.    O sistema de metas de inflação funcionou bem: Apesar de sofrer varias criticas, nosso sistema de inflação funcionou bem durante a crise. Lógico queex post factum é fácil criticar isso ou a quilo, esporte predileto de um certo pensamento keynesiano tupiniquim, mas no todo nosso sistema funcionou bem, foi um fator de estabilidade e consegui reagir, muitas vezes com inovações, a crise. A crise mostra que os custos de mexer com o sistema atual podem ser muito maiores do que qualquer ganho teórico, e que devemos agir com muita cautela para não jogar no lixo o capital reputacional já acumulado pelo sistema atual.


Vemos então que a crise nos traz muitas lições, e aponta parar uma agenda de reformas econômicas que coloca a questão fiscal no centro. Temos que dar a política fiscal a mesma agilidade, flexibilidade e entorno institucional que a política monetária hoje tem. 

Tony Volpon