quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Oposição no Brasil: questão de prudência e caldo de galinha




Por falar em povo tem um ditado popular que diz que prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Talvez a oposição devesse levar à sério.
Duas coisas podem tirar do eixo um projeto de oposição vencedor para as eleições em 2010:
- A vitória antecipada.
Houve na oposição uma aposta na crise internacional como elemento de precipitação de diversas fragilidades deste modelo de governo. Políticas e econômicas.
No final do dia a crise foi menos profunda ou dramática que as vontades esperavam, não garantiu a vitória antecipada, mas irá garantir o discurso do “nosso governo venceu a crise”, conforme ficou bem claro ontem no discurso de Lula, em comício eleitoral na cidade de  São Bernardo do Campo, São Paulo.
Num primeiro momento houve uma intensa atenção à economia, mas a inexistência de dramaticidade deslocou a atenção para outras áreas. O falecido Paulo Francis dizia que o que move as pessoas são os dramas. Talvez as fragilidades reais deste modelo ainda venham a se apresentar mais à frente e se configurem numa taxa de crescimento bem abaixo das esperanças da equipe econômica, mas isto, agora, não dá IBOPE;
- A inexistência de um programa de governo claramente alternativo às propostas atuais. Também no mesmo comício eleitoral em São Bernardo ficou clara a intenção plebiscitária. As falas do presidente não são para o futuro, mas para o presente e o passado.
Lula está ciente de que o eleitor médio dificilmente troca o presente, se for confortável,  pelo futuro. O dilema da intertemporalidade está presente ai.
E daí que esta política de guarda-chuva social foi tornada obrigatório pela Constituição Federal que o PT se recusou a votar? E daí se os recursos para as políticas sociais são viáveis por conta de uma aplicação das políticas de responsabilidade fiscal fundadas na Lei de Responsabilidade Fiscal que o PT também foi contra e ainda é? O eleitor médio não acompanha estas coisas. Tem memória curta e focada no presente e no futuro de curto prazo.
Evidentemente a entrada de Marina Silva no páreo dificulta as coisas, mas ela estará movida e talvez envolvida em suas próprias contradições, como esteve Heloísa Helena nas últimas eleições.
Mas não é apenas isto. Tem mais.
Citações como a feita por um dos oradores que antecipou Lula, em relação ao BNDES e aos bancos públicos, têm alvo certo e dão retorno em votos.
Em recente evento realizado no IPEA, 18 de agosto, o economista Paul Singer – Secretaria Nacional de Economia Solidária, Ministério do Trabalho - festejava o “renascimento” do keynesianismo. Singer é velho militante da esquerda brasileira. Em outras épocas via em Keynes uma figura conservadora com um projeto cuja única finalidade era a permanência do status quo, o modo capitalista de produção. Na medida em que o keynesianismo brasileiro criou uma nova leitura concentrada no estimulo do crescimento do Estado via maiores despesas e que o Estado é visto como um instrumento real de transformação da sociedade, Keynes passa a ser consumível e vira um rótulo palatável do que podemos chamar de ressurgência do “desenvolvimentismo keynesiano”. Segundo Singer a agenda anterior, dos “homens de negócios”, tinha o controle inflacionário e o equilíbrio fiscal como metas. Ainda, segundo ele, ganham relevância a agenda ecológica e as diferenças econômicas e sociais. Não é também coincidência um militante petista tão antigo quando Singer estar falando no desenvolvimento ambientalmente sustentável às vésperas da saída de Marina, justamente por ela não ver no governo atual a aplicação desta lógica que ele defende.
Vamos admitir que Singer falava para o futuro e que os quase dois mandatos de Lula não foram dentro da agenda dos “homens de negócio”, mas um período de transição onde pelo menos as “preocupações com as diferenças econômicas e socias” tenham sido relevantes e os problemas de responsabilidade fiscal tenham ficado num segundo plano, sendo tocados de forma displicente. As contingências orçamentárias para garantir o superávit primário foram apenas para zerar a dívida externa e utilizar o argumento como propagando de governo. Deve ter sido isto.  De qualquer forma aquele fórum no IPEA respondia a demanda da direção de PT por uma acessória para a candidata e ali estão estabelecidas as linhas do que pode ser o discurso do futuro.
Para trás o governo é o governo que venceu a crise na qual a maioria dos grandes países ainda está atolada. Para frente a aposta está no desenvolvimento economicamente sustentável fundado na sustentabilidade ambiental e na redução das disparidades econômicas e sociais, mesmo ao custo da quebra do equilíbrio fiscal.
Há uma grande diferença entre o discurso de Singer e o de Pedro Malan.
Assumindo que o discurso de Malan não é o discurso da oposição, então qual seria este discurso frente ao da situação?
Esta soma de passado vitorioso, a questão plebiscitária, com o futuro verde, a questão programática, é uma proposta de campanha que só poderá ser superada se a oposição for capaz de mostrar ao eleitor médio de qual futuro ela está falando e se ele, eleitor, for capaz de perceber que tem um lugar melhor neste futuro.
Quem cai de maduro é fruta e, até nossos dias, apenas Newton se deu bem com isto.
Demetrio Carneiro